Envelhecimento da população é desafio para a saúde suplementar

Como manter o interesse de um mercado em que as tarifas são altas para quem paga e pouco atraentes para quem opera?
Leonardo Spinelli
Publicado em 27/07/2013 às 5:12


O setor de saúde suplementar no Brasil está chegando num ponto de inflexão por causa do processo de envelhecimento da população brasileira. Como manter o interesse de um mercado em que as tarifas são altas para quem paga e pouco atraentes para quem tem de manter o atendimento numa perspectiva de aumento de despesas? Quanto mais velha a pessoa, maior seu gasto com saúde. O problema é que, se os aumentos acontecem no ritmo do uso dos clientes (sinistralidade), as pessoas não terão recursos para pagar as mensalidades e o resultado disso pode ser a evasão para o Sistema Único de Saúde (SUS), que também não tem condições de atender toda essa demanda.

O tema será debatido por especialistas, no mês que vem, em seminário promovido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo a agência, serão discutidas as mudanças no perfil da população brasileira, com destaque para o aumento da expectativa de vida e a queda da fecundidade, que refletem um quadro de envelhecimento.

As palestras colocarão em debate os impactos que tais mudanças trarão, no longo prazo, para os modelos atuais de financiamento do setor.

A possibilidade de desequilíbrio econômico-financeiro das carteiras, em virtude da transição demográfica, já vem sendo trabalhada dentro da ANS. 

A agência reconhece que o modelo atual “precisa ser aperfeiçoado, para que reflita uma variação de custos adequada a cada região do País”. Os técnicos avaliam também que é necessário rever a forma como os reajustes variam de acordo com a faixa etária do consumidor e estudar a criação de planos de saúde que incluam um pagamento semelhante ao que é feito em sistemas de capitalização. Ou seja, parte do que o consumidor mais jovem paga por mês seria usada como uma poupança que ajudaria a reduzir as mensalidades a serem pagas quando ele atingir a idade de 60 anos. A agência defende que um modelo como esse poderia diminuir o gasto com o plano de saúde na fase mais idosa das pessoas.

A esperança de vida da população brasileira aumentou para mais de 73 anos e, além disso, nas últimas décadas, as famílias passaram a ter menos filhos. A consequência disso é que a pirâmide etária do Brasil está diminuindo na base mais jovem e ficando mais gorda nas idades mais avançadas. Em entrevista ao JC na semana passada, os analistas da Fator Corretora Pedro Zabeu e Daniel Utsch definiram o tamanho do problema. “O SUS não dará conta do recado. Quanto mais velha a pessoa, mais ela gasta com saúde. Então, o governo tenta empurrar a conta para a iniciativa privada. O problema é que, além de ser impopular autorizar reajustes dentro do que as empresas precisam, se a conta fica alta demais, as pessoas voltam para o SUS.”

Para se ter uma ideia, em 2010, o Brasil tinha 130.619.449 pessoas com idades entre 15 e 65 anos e outras 13.193.703 com idades superiores. Ou seja, o número de pessoas mais jovens era 10 vezes maior que as mais velhas. Para 2020, a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que essa diferença caia para 7 vezes. Em 2030, baixará para 5 vezes até chegar em 2050 em cerca de 3 vezes, com uma população de 138 milhões de pessoas entre 15 e 65 anos contra 48,9 milhões acima dessa faixa etária.

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