Falha da Amazonas Energia reforça fragilidade

Apesar de ter elevado a receita, investido na gestão e na modernização, a estatal deixa a desejar
da Agência Estado
Publicado em 11/08/2013 às 14:32


O diretor-presidente da Eletrobrás Amazonas Energia, Marcos Aurélio Madureira da Silva, atribui o atraso das obras sob gestão da empresa a problemas que considera recorrentes nas empreitadas do País: complicações para encontrar mão de obra qualificada, para obter licenças ambientais e relatórios do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. “Mas, superados os obstáculos, vamos concluir as obras até dezembro”, diz Madureira. 

A inauguração de uma linha de transmissão costuma ser dedicada a testes. É normal que ela receba um volume reduzido de energia. Mas a adaptação dura um mês ou, no máximo, dois. Pelo cronograma atual, o nível de utilização fica em 10% por quatro meses, até outubro, quando a finalização de outras obras deve elevar o aproveitamento para 40%. Se o cronograma vingar, a utilização pode chegar a 70% em dezembro. “O que chamamos de curva da banheira, na infância da operação, não passa de dois meses”, diz um executivo com longa experiência no setor. “Mas esse esquema vai ficar por um período longo porque a distribuidora não concluiu as obras no prazo.”

Para os especialistas, o atraso é grave. “A situação é comparável a se inaugurar o trem-bala entre Rio e São Paulo e os passageiros, ao desembarcarem, não encontram táxi, ônibus ou carro para sair dali porque não construíram as rampas de acesso” diz um consultor do setor. “Alegar problemas conjunturais, como dificuldade para conseguir uma licença não se aplica nesse caso, pois se trata de uma obra que levou anos.”

No mercado, o atraso reforça a imagem de ineficiência das estatais. Apesar de ter elevado a receita, investido na gestão e na modernização, a Amazonas Energia deixa a desejar. No primeiro trimestre, registrou um prejuízo de R$ 58 milhões. Por causa do número de apagões, é a número 23 no ranking de eficiência de fornecimento, numa lista de 35 empresas. Furnas e Chesf, empresas do grupo Eletrobrás, estão numa situação parecida. Foram proibidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de encabeçar consórcios nos leilões do setor porque têm 230 pendências atrasando mais de 80 projetos.

Os órgãos responsáveis pelo monitoramento do setor tratam o atraso com naturalidade. A Aneel informou que acompanha a distribuidora e aplicará as penas cabíveis se identificar falhas. O Ministério das Minas e Energia disse que as obras “estão em andamento, com previsão de conclusão nos próximos meses”. 

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, considera o atraso compreensível. “Nem sempre se consegue conciliar obras de transmissão e de distribuição e, nesse caso, as condições foram mais complexas. No fim, a transmissão também atrasou e o prazo está concatenado.” Segundo Chipp, ainda que o sistema estivesse pronto, o ONS procederia da mesma maneira. “Para evitar blecautes, a interligação seguiria o cronograma atual.”

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