O governo considera que o mercado está corrigindo o excesso de alta do dólar e trazendo a cotação da moeda para um nível mais confortável para o combate à inflação. O movimento atual de desvalorização da moeda americana em relação ao real é visto pela área econômica como uma "queima de gordura", depois das incertezas em relação à mudança na política monetária dos Estados Unidos e seus impactos sobre países emergentes.
Na terça-feira (8) o dólar caiu 0,54%, a terceira queda seguida, e fechou cotado a R$ 2,2050. O governo avalia que o mercado está naturalmente fazendo um ajuste. Da mesma forma que o real foi uma das moedas que mais se desvalorizaram, agora ocorre o contrário, seguindo movimento internacional. Segundo fontes do governo, o importante é que a taxa de câmbio fique mais estável.
A sensível melhora do interesse estrangeiro por países emergentes já dura algumas semanas e levou a uma apreciação do real superior a 6% desde o início de março. A moeda saiu de R$ 2 3420, no fim de fevereiro, para um nível próximo de R$ 2,20 nesta semana. Mas o Brasil não está sozinho. Assim como sofreu junto com outros países em desenvolvimento nos dois primeiros meses do ano, agora surfa na onda do capital internacional, liderando seus pares.
AMORTECEDOR - Fontes da área econômica avaliam que o nível atual de câmbio é confortável para o combate da inflação, funcionando como um mecanismo "amortecedor" para a alta dos preços dos alimentos que afeta a economia neste momento. Não há uma política deliberada de valorização do real, mas o efeito colateral é positivo para o combate à inflação.
A transmissão da queda do dólar para a inflação ocorrerá de forma gradual, afirma-se no governo. A avaliação é que o recuo observado no primeiro trimestre no dólar pode ter efeito pleno apenas em 2015 - e desde que mantido o câmbio médio do período por 12 meses. O governo reconhece que a partir deste mês poderá ser registrado algum efeito nos índices de preços, ainda que pequeno.
A reversão na cotação do dólar ocorreu após uma onda de pessimismo nas primeiras semanas do ano, que levou a moeda americana a superar R$ 2,45 no fim de janeiro. Entre o fim de março e o início de abril, os investidores voltaram a buscar o risco fora dos países desenvolvidos. Isso derivou das perspectivas de manutenção dos juros baixos nos EUA - após a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, dizer que a economia americana ainda precisa de apoio - e dos sinais de políticas de estímulo na Europa e na China. Os fundos dedicados a esses mercados, tanto de renda fixa quanto de ações, passaram a receber mais recursos.
"É um fato global, tem a ver com o peso dos EUA e da eventual inversão da política monetária, o que afeta as moedas, as bolsas e os juros", avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "Yellen disse que a economia ainda precisa de apoio. A partir daí, os juros de lá aguardaram o payroll (estatística do mercado de trabalho) e caíram após dados mais fracos que o esperado", diz, lembrando que, em março, os EUA criaram 192 mil novas vagas de emprego - a projeção era de 200 mil.
O forte fluxo de divisas para o Brasil nas últimas semanas não chegou a surpreender o governo. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em evento do G-20, no fim de fevereiro, na Austrália, disse que o sentimento com o País estava melhorando. "Há nítida mudança positiva em relação ao Brasil nas últimas semanas", disse, à época, Tombini.