Dólar encosta em R$ 2,84 e recua, mas segue no maior valor em dez anos

Moeda americana fechou a R$ 2,823 nesta terça-feira
Folhapress
Publicado em 10/02/2015 às 17:51
Moeda americana fechou a R$ 2,823 nesta terça-feira Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Após flertar com a barreira de R$ 2,84, o dólar recuou levemente no final da sessão desta terça-feira (10), mas ainda assim fechou no maior patamar desde novembro de 2004.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, encerrou o dia com alta de 1,56%, a R$ 2,823. É o maior valor desde 10 de novembro de 2004, quando a moeda fechou a R$ 2,825. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, encerrou o dia com avanço de 2,08%, cotado a R$ 2,836, no maior nível desde 8 de novembro de 2004, quando fechou a R$ 2,837.

Fatores internos e externos pressionaram a moeda americana nesta terça-feira.

Do exterior, pesaram China, Grécia e Estados Unidos, afirmam analistas ouvidos pela reportagem. Na China, a inflação anual ao consumidor atingiu a mínima de cinco anos em janeiro, enquanto a deflação ao produtor piorou destacando o aprofundamento da fraqueza na economia. Os dados também aumentam a pressão sobre as autoridades para injetarem mais estímulo com o objetivo de sustentar o crescimento.

A China é um importante parceiro comercial de emergentes como o Brasil. Qualquer desaceleração no país asiático aumenta a aversão ao risco em torno dos emergentes.

"A China também tem feito operações em sua política de câmbio que afetam o preço de commodities, ao permitir uma flutuação maior do yuan em relação ao dólar, o que acaba tornando as importações chinesas mais caras e reduz a demanda de commodities no mundo", afirma Carlos Pedroso, economista sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi.

A Grécia contagiou o mercado cambial principalmente no início dos negócios, com a incerteza em torno de uma solução para a crise grega.

A situação causa temor de que o país saia da zona do euro, aumentando as preocupações de investidores. Em relatório, Marco Antônio Barbosa, analista da CM Capital Markets, lembra que a saída da Grécia tem "aspecto simbólico relevante", pois pode levar outros países a adotarem a mesma solução.

No meio do pregão, porém, as tensões diminuíram após o anúncio de uma reunião de emergência nesta quarta-feira (11) entre os ministros de finanças da zona do euro em busca de um acordo sobre a dívida grega.

EUA
Outro fator que impactou o dólar foi a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevar suas taxas de juros antes de junho. Ao longo do dia, declarações de dois membros do Fed -Jeffrey Lacker, de Richmond, e John Williams, de São Francisco- ajudaram a alimentar a expectativa de que o banco central americano eleve as taxas de juros antes do previsto.

O mais enfático em relação a essa percepção foi Williams, que afirmou, em entrevista ao jornal "Financial Times", que o momento para a autoridade monetária dos Estados Unidos elevar seus juros está "mais e mais perto".
"A alta dos juros em junho já está precificada na desvalorização do real. No entanto, se o Fed antecipar o aumento dos juros ou fizer uma elevação maior que a esperada pelo mercado pode causar uma desvalorização maior do real em relação ao dólar", avalia Pedroso.

Com juros mais altos nos EUA, recursos internacionais poderiam se direcionar para investimentos em títulos americanos -remunerados pela taxa e considerados de baixo risco-, em detrimento de aplicações mais arriscadas, como em países emergentes. Diante da perspectiva de entrada menor de dólares no Brasil, o preço da moeda americana sobe.

Para Pedroso, do Banco de Tokyo-Mitsubishi, o componente interno não pode ser desprezado. "Há uma conjuntura econômica bastante complicada, com risco de racionamento de água e de energia e a percepção de que um ajuste fiscal será difícil de ser feito", avalia.

"Mas tem muita coisa em aberto ainda. Vai ter Carnaval, o que faz com que o investidor adote posições defensivas para que, na volta, não seja pego de surpresa. Tem esse tipo de movimento que influencia o preço", ressalta.

O BC deu continuidade às atuações diárias no mercado de câmbio nesta terça-feira e vendeu 2.000 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.400 contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,8 milhões.
O BC também vendeu a oferta integral de 13.000 contratos de swap para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a US$ 10,438 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42% do lote total.

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