Especulações em torno de uma possível saída de Joaquim Levy do comando da Fazenda influenciaram fortemente o mercado financeiro no início das negociações nesta segunda-feira (25), mas as cotações se ajustaram no final do dia, após o ministro negar essa hipótese e afirmar que não houve divergências quanto ao tamanho do corte no Orçamento do governo.
Na Bolsa, o principal índice da BM&FBovespa, o Ibovespa, fechou o dia em alta de 0,43%, aos 54.609 pontos. O indicador chegou a perder os 54 mil pontos ao longo da sessão, com queda de até 0,75%. O volume financeiro ficou em R$ 3,624 bilhões -bem abaixo da média diária de maio, em torno de R$ 7 bilhões, devido a feriado nos EUA e em alguns países europeus.
No câmbio, o dólar comercial, usado no comércio exterior, ficou praticamente estável, com ligeira valorização de 0,09% sobre o real, cotado em R$ 3,098 na venda. A moeda chegou a bater R$ 3,135 durante o pregão. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve alta de 1,49%, para R$ 3,115. Esse mercado fecha mais cedo e, por isso, não chegou a refletir a negativa do ministro Levy sobre sua saída da pasta.
A boataria iniciou após Levy ter faltado ao anúncio do corte do Orçamento, na sexta-feira (22), e deixado se espalhar nos bastidores seu descontentamento com o valor do contingenciamento -R$ 69,9 bilhões-, bem abaixo do que ele desejava.
"Não pensei em nada de sair", disse o ministro em entrevista a jornalistas nesta segunda-feira, após reunião da coordenação política do governo Dilma Rousseff. Oficialmente, a versão da assessoria de Levy e do Palácio do Planalto foi a de que o ministro não compareceu ao anúncio do corte porque estava gripado.
"O Levy é, hoje, o homem de confiança do mercado. A saída dele da Fazenda causaria volatilidade e aversão ao risco enorme no curto prazo, porque o ajuste fiscal estaria em xeque, assim como a própria política do governo", disse João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos.
"Mesmo após o Levy ter negado sua saída da Fazenda, o mercado vai ficar desconfiado até que os resultados [do ajuste fiscal] comecem a aparecer. As medidas têm que ser aprovadas sem grandes alterações", disse Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho. "Acredito que ele vai deixar a obra pronta antes de sair. Pode não ficar até o fim deste governo, mas vai levar o ajuste adiante e esperar os resultados."
JURO NOS EUA
Segundo operadores, além da questão fiscal no Brasil, também seguiu pressionando o mercado de câmbio as incertezas sobre o rumo do juro básico nos Estados Unidos.
Embora resultados mistos de indicadores econômicos tenham afastado a hipótese de elevação em junho, a expectativa é que a taxa suba ainda neste ano, o que poderia atrair para a maior economia do mundo recursos atualmente aplicados no Brasil e em outros emergentes.
Isso porque uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
A Fed Funds Rate (taxa de juro americana) está em seu menor patamar histórico desde 2008, entre 0% e 0,25% -uma medida do Fed para tentar amenizar os efeitos negativos da crise financeira.
LEILÕES
A sinalização de que o Banco Central do Brasil deve reduzir suas intervenções no mercado cambial em junho também tem limitado o espaço para quedas do dólar.
Nesta segunda (25), a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 394,5 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões. Nos meses anteriores, a rolagem estava sendo de 100% dos contratos.
AÇÕES
No mercado de ações, o ganho do Ibovespa foi pautado pelo bom desempenho das ações de bancos, segmento com maior relevância dentro do índice, e da mineradora Vale.
O Itaú subiu 0,37%, para R$ 35,43, enquanto o papel preferencial do Bradesco, sem direito a voto, ganhou 0,58%, para R$ 29,27. Já o Banco do Brasil teve valorização de 3,64%, para R$ 24,20. Essas ações haviam sido penalizadas na semana passada pelo aumento da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) dos bancos de 15% para 20%.
A Vale viu sua ação preferencial subir 1,76%, para R$ 17,35, enquanto a ordinária, com direito a voto, ganhou 1,53%, para R$ 20,57. O avanço ocorreu na esteira da melhora nos preços do minério de ferro no mercado à vista da China -principal destino das exportações da mineradora brasileira.
Do outro lado, as ações da Petrobras fecharam o dia no vermelho. Os papéis preferenciais da companhia cederam 2,14%, para R$ 12,80, enquanto os ordinários recuaram 1,91%, para R$ 13,83.