O "day after" do pacote fiscal anunciado pelo governo federal foi marcado pela frustração dos investidores diante das dificuldades a serem enfrentadas pelo Planalto na tentativa de evitar um novo rebaixamento do País. O dólar à vista fechou em alta de 0,97% nesta terça-feira (15) cotado a R$ 3,856, depois de ter caído 1,55% na véspera, quando o mercado ainda repercutia positivamente as iniciativas do governo na busca por reverter o déficit de R$ 30,5 bilhões previsto para o ano que vem.
Do total de R$ 64,9 bilhões a serem obtidos pelo governo por meio do pacote, R$ 32 bilhões referem-se à arrecadação com a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), a uma alíquota de 0,2% de todas as transações bancárias. Mas a volta do "imposto do cheque", devido à sua impopularidade, é justamente o principal ponto de resistência no Congresso, onde a repercussão negativa foi imediata.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), manifestou-se ainda na segunda-feira, sinalizando que dificilmente o governo conseguiria aprovar a CPMF. Hoje Cunha voltou a falar sobre a medida, ao dizer que o governo "não tem voto" no Congresso para aprovar o que depende dos parlamentares. Ao se posicionar sobre o assunto, Cunha disse que "apoio do PMDB à presidente é uma coisa, mas apoio à CPMF é outra coisa".
Com a fala de Cunha, o dólar, que já havia iniciado o dia em alta, acelerou o ritmo e renovou sucessivas máximas, chegando a R$ 3,883 (+1,68%) durante a tarde. Segundo operadores, ordens de stop loss (interrupção de perdas) de investidores vendidos no mercado futuro contribuíram para essa puxada nos negócios da tarde.
Diante do cenário adverso no Congresso, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se pela manhã com 12 líderes da Câmara para defender as medidas apresentadas. À tarde, a presidente teve encontro com lideranças da base aliada no Senado. Nas duas reuniões, Dilma esteve acompanhada pelos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento).
Também mereceu atenção a audiência do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Foi a primeira vez que o presidente do BC se manifestou após a perda do grau de investimento do Brasil pela S&P. Tombini admitiu que o rebaixamento tornou a situação interna ainda mais desafiadora, sendo crucial o fortalecimento dos fundamentos econômicos.
Tombini também defendeu a livre flutuação do câmbio e disse que o BC tem um "arsenal" de medidas e que "a ideia é não financiar saída (de recursos) quando as coisas estão mais incertas". As declarações de Tombini, embora tenham sido acompanhadas de perto, não chegaram a influenciar cotações, uma vez que foram interpretadas como um discurso já conhecido do mercado.
No final dos negócios no horário regular, no entanto, dólar e juros já abandonavam os patamares mais elevados do dia. Para isso, contribuiu a desvalorização da divisa americana no mercado internacional, além de uma realização de lucros (venda de moeda) por aqui.