Confiança da indústria se recupera, mas haverá turbulência à frente, diz FGV

Nas recessões mais curtas, como em 1998 e 1999 e a de 2003, o ponto de virada no ICI correspondeu aos momentos de saída do quadro recessivo
Lucas Moraes
Publicado em 22/06/2016 às 15:24
Nas recessões mais curtas, como em 1998 e 1999 e a de 2003, o ponto de virada no ICI correspondeu aos momentos de saída do quadro recessivo Foto: Foto: David Alves Palácio Piratini


A prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI) de junho, anunciada mais cedo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), sinaliza uma virada na confiança da indústria. O problema, na avaliação do superintendente-adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Aloisio Campelo Junior, é o que virá pela frente. 

Segundo ele, um gráfico em "w" é comum em recessão longa. Nas longas recessões do início dos anos 1980 e da virada das décadas de 1980 e 1990, o ICI teve uma evolução em "w", lembrou. "Haverá muita turbulência à frente", acrescentou Campelo, destacando a votação definitiva do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, no Senado e a evolução das investigações da Operação Lava Jato como elementos de incerteza.

Nas recessões mais curtas, como em 1998 e 1999 e a de 2003, o ponto de virada no ICI correspondeu aos momentos de saída do quadro recessivo, de acordo com Campelo. "Nas recessões longas, a tendência é fazer um w", reforçou o pesquisador do Ibre/FGV. 

A observação foi feita após constatar que o momento atual é de virada na confiança da indústria. A alta de 3,9 pontos na prévia de junho, para 83,1 pontos, indica o quarto avanço seguido na comparação com o mês imediatamente anterior. 

"O número de pessimistas está se reduzindo gradualmente, embora ainda não haja aumento do número de otimistas", disse Campelo. 

Para o pesquisador, três fatores explicam a "virada" do ICI no primeiro semestre do ano. O primeiro é o avanço no processo de ajuste de estoques, iniciado em 2015. Campelo calcula que dois terços do ajuste tenham sido feitos. 

O segundo fator, associado ao primeiro, é uma estabilização na atividade industrial, apontada pelos indicadores de produção, calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que passaram a subir ligeiramente na comparação na margem e a cair menos ante o ano anterior. 

"Há uma percepção de que as taxas mais negativas tenham ficado para trás", disse Campelo. 

O terceiro fator é mais subjetivo, segundo o pesquisador da FGV. "De alguma forma, há um componente nas expectativas de percepção de que as medidas e o encaminhamento político permitirão que a economia caminhe de forma mais favorável nos próximos meses", completou Campelo.

 

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