Nem o Dia das Mães, que é conhecido pelas promoções e considerado a segunda melhor data para o comércio varejista do ano após o Natal, conseguiu salvar as vendas de maio passado. O resultado do mês registrou uma queda de 9% em relação ao mesmo período de 2015, sendo a 14ª retração consecutiva, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada ontem pelo órgão também revela que, ao comparar maio com abril deste ano, a redução chega a 1%, a pior registrada para o mês de maio em 15 anos. No acumulado dos primeiros cinco meses de 2016, o varejo já apresenta perdas de 7,3%.
Dos oito setores investigados pelo IBGE, apenas dois não apresentaram resultados negativos em maio, comparando com abril deste ano: o dos supermercados, alimentos, bebidas e fumo, que se manteve sem variações; e o de tecidos, vestuário e calçados, com crescimento de 1,5%. Para os demais segmentos, maio foi de baixas. Artigos de uso pessoal e doméstico, representados pelas lojas de departamentos, artigos esportivos e brinquedos, recuaram 2,4% em relação ao mês anterior.
Outros resultados negativos foram registrados pelas categorias de móveis e eletrodomésticos (-1,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos (-0,8%) e combustíveis e lubrificantes (-0,4%). Em menor impacto global, também tiveram retrações os segmentos de livros, jornais, revistas e papelaria, cujas vendas caíram 2,7%; e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2%).
Na opinião do economista da Federação do Comércio de Bens e Serviços de Pernambuco (Fecomércio-PE) Rafael Ramos, o quadro delicado que o varejo atravessa pode ser explicado pela falta de confiança do consumidor que, diante das altas taxas de juros, inflação e desemprego, desiste de adquirir bens.
“Com a renda achatada principalmente pela inflação, o brasileiro consegue, basicamente, quitar suas despesas com alimentação, moradia e transporte, sobrando pouco para outros gastos”, comenta o economista. Ainda de acordo com ele, o uso do crédito também está acontecendo com mais cautela, pois as pessoas têm medo de se comprometer com parcelas que não poderão pagar, caso percam seus empregos.
Principal opção dos lojistas para driblar os tempos de “vacas magras”, as promoções têm sido cada vez mais constantes tanto nas ruas quanto nos grandes centros comerciais. Na opinião do presidente da Associação Lojistas dos Shoppings de Pernambuco (Aloshop), Ricardo Galdino, nunca se viu preços tão atrativos quanto os que vêm sendo praticados por alguns lojistas na tentativa de atrair seus clientes.
“Neste ano, por exemplo, vimos promoções em datas comemorativas, como Dia dos Namorados, o que nunca aconteceu. Historicamente, são datas que vendem bem”, diz Galdino. “Quando você vê vitrines dando descontos altíssimos, como 60%, 70% em uma peça, é um sinal muito claro de como estão os negócios”, completa.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), Eduardo Catão, concorda. “Não tem outra fórmula: o que mais tem atraído os consumidores é o preço mais baixo associado ao prazo estendido para pagar”, aponta. Outras medidas dos lojistas têm sido os cortes operacionais e o treinamento de equipes. “De enxugar o quadro de funcionários até investir em soluções para economia de energia elétrica, as lojas estão fazendo de tudo para diminuir custos e não serem obrigadas a fechar as portas, o que já é uma realidade para diversos lojistas”, pondera Catão.
A proprietária da Via Lorenzzi, Patrícia Pessoa de Melo, vem sentindo a redução gradativa no consumo. “Sentimos uma queda desde o ano passado. Apenas em maio, tivemos uma melhora. No último mês de junho, a queda foi de 5%, mesmo com promoções progressivas”, afirma.