Investir nos estudos para conseguir empregos mais qualificados é o desejo de muita gente, mas se tornou difícil para outros tantos por consequência da crise. A situação ficou ainda mais complicada após as restrições que o Governo Federal começou a impor ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) desde 2015. Diante desse cenário, o financiamento universitário privado, ainda pouco explorado no Brasil, vem ganhando cada vez mais adeptos – de estudantes a instituições de ensino.
São várias modalidades . Praticamente todos os bancos realizam empréstimos para custear cursos de graduação e alguns também de pós-graduação. Há também os fundos criados especialmente para o financiamento universitário (confira no quadro abaixo) e que têm crescido bastante desde o ano passado, aproveitando principalmente estudantes que ficaram de fora das regras mais rígidas do Fies.
O exemplo mais conhecido desse modelo é o Pravaler, programa gerido pela Ideal Invest, que atualmente tem parceria com 300 instituições de todas as regiões do País e já emprestou dinheiro a mais de 80 mil alunos. O programa financia cursos técnicos, de graduação e pós-graduação. Os juros cobrados podem chegar a 2,19% ao mês, mas alguns instituições subsidiam esse percentual.
Contrariando o atual clima de instabilidade econômica, a turismóloga Alinne Carolina Barbosa, 29 anos, decidiu apostar em um segundo curso superior no início do ano. “Minha área infelizmente é muito difícil, preciso ter perspectivas de futuro. Decidi procurar oportunidade na dificuldade”, conta Alinne, que agora estuda arquitetura e urbanismo na Faculdade Boa Viagem (FBV).
Sem condições de pagar as mensalidades e por não ter o perfil do Fies, a saída foi recorrer ao Pravaler. “Fiz as contas e vi que realmente era possível”, diz. Fazer as contas é justamente o maior alerta feito no caso do financiamento privado. O principal detalhe que vai pesar no orçamento é a taxa de juros, que pode rolar por pelo menos quatro anos, multiplicando por várias vezes o valor emprestado.
Outra opção parecida é o Fundacred, que oferece opções de crédito para financiamento e para regularização de débitos com instituições de ensino. Esse último foi a opção da estudante de psicologia Verlane Karine Rocha, 28. “Estava perto do fim do curso quando precisei abandonar por problemas pessoais. Quando pude voltar, tinha acumulado uma dívida de R$ 9 mil. Até que foi feita essa parceria com a Fundacred e a universidade me informou da possibilidade”, diz Verlane, que estuda na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
As instituições também percebem como o financiamento privado tem se tornado uma alternativa relevante para seus alunos. “Chegamos a ter 33% do nosso total de alunos estudando através do Fies. Hoje, depois das restrições, esse número caiu para 19%. Com a mudança de contexto, a saída pode ser o financiamento privado”, afirma o procurador institucional da Fafire, Moisés Benigno. Apesar disso, ele destaca que o cenário de inadimplência também acaba tornando esse modelo inacessível para muitos estudantes.
Há, ainda, outra modalidade: o financiamento realizado pela própria instituição de ensino. O Educred é um exemplo, criado pelo Grupo Ser Educacional exclusivamente para seus alunos. As exigências são muito parecidas com as dos fundos de financiamento. Uma vantagem é que as faculdades têm mais liberdade para realizar “campanhas promocionais” com taxas de juros mais baixas.