A indústria automobilística espera uma rápida decisão para a crise política atual, independente da solução a ser tomada, seja a renúncia do presidente Michel Temer, sua permanência no cargo ou um processo de impedimento, tudo seguindo a Constituição.
"O que não pode é essa situação se perdurar por muito tempo, como ocorreu no processo de impeachment da ex-presidente Dilma, que deixou o País paralisado por quase dois anos", diz o presidente da fabricante de autopeças Wabco, Reynaldo Contreira. "Isso seria muito maléfico para o País; precisamos de uma transição rápida, precisamos virar a página."
Por enquanto, a rotina da Wabco - que produz, entre outros itens, sistema de freio (ABS) e transmissão automática para veículos comerciais -, não foi alterada. O executivo, contudo, teme que, a se prolongar a indefinição, "certamente vai acender a luz amarela na corporação e, diante de um cenário de insegurança, investimentos previstos para o curto prazo podem ser afetados".
O turbilhão que colocou em dúvida a permanência de Temer na presidência ocorre num momento em que o mercado de veículos, que caiu nos últimos quatro anos, começava a dar os primeiros sinais de melhora que, na previsão das montadoras, se intensificariam a partir do segundo semestre.
"O que precisamos é de previsibilidade para continuarmos trabalhando", afirma o presidente da MAN Latin America, Roberto Cortes, que também defende a continuidade dos programas de reforma trabalhista e da Previdência.
O executivo informa já ter sentido no mercado nesses últimos dias um aumento no custo dos financiamentos e na restrição ao crédito por parte de instituições financeiras, tanto para empresas quanto para clientes que pretendem adquirir veículos. "Mas ainda acreditamos que essa crise política possa ser momentânea."
O diretor da Toyota, Ricardo Bastos, espera que, no máximo em 30 dias o País tenha uma definição para ser adotada até as eleições de 2018. "Precisamos de uma rápida indicação (de saída para a situação atual), qualquer que seja", afirma ele, mesmo que depois leve um período mais longo para ser adotada.
Bastos avalia que o Brasil mantém suas instituições operando normalmente e os fundamentos econômicos são menos vulneráveis atualmente. Por isso, acredita que não haverá impacto tão forte no mercado.
A alta na produção de veículos, de 20% nos primeiros quatro meses do ano em relação a 2016, deve continuar, até porque boa parte dela vem do crescimento das exportações que, na opinião de Bastos, deve se manter. As vendas internas, por outro lado, "talvez até sofram, mas vai depender do tempo em que a insegurança se manter." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.