À parte do julgamento que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) podendo resultar numa cassação do presidente Michel Temer (PMDB), indicadores econômicos que apontam melhoras na situação do País continuam a aparecer. Termômetro importante, o Índice de Confiança do Empresário Industrial de maio marcou 53,7 pontos, uma alta de 0,6 na comparação com o mês anterior. Diferente do que aconteceu próximo ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a realidade econômica não é um fator adicional que pressione a saída do líder do executivo nacional. Para os analistas, o governo está colhendo os frutos de decisões acertadas tomadas no início do mandato e os reflexos da atual crise política só serão dimensionados mais à frente.
Um exemplo claro da diferença estabelecida pelo mercado entre a crise política atual e as perspectivas de mais longo prazo é percebido no próprio índice industrial – formado pelo componente do agora e do amanhã. Quando se considera o presente, o índice nacional do empresário industrial fica em 46,3 e o de Pernambuco em 45,1. Mas, ao avaliar as expectativas futuras, os números crescem para 57,4 e 58,7, respectivamente.
“São sinais lentos que começam a redesenhar a retomada da economia do País. Uma boa expectativa incentiva o investimento futuro, que promove crescimento”, analisa o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Thobias Silva. Apesar do certo otimismo na indústria, o economista faz uma ressalva. “Se as reformas (da Previdência e Trabalhista) não andarem, a agenda econômica do governo não se cumprir e o cenário se deteriorar, não vamos ter o crescimento que estamos esperando”.
Além do PIB – cujo resultado foi beneficiado por um setor agrícola de safras recordes – e da confiança da indústria, também entra na conta das boas notícias a produção de veículos (cresceu 25% em abril na comparação mensal e 33,8% na comparação anual). “No ano, o crescimento ainda é modesto, mas em linha com a expectativa de estabilização”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.
No que se refere ao comércio e aos serviços – cujas reações ainda são lentas – o estímulo vem das reduções sucessivas da taxa básica de juros (a Selic), que já se desdobra na queda dos juros do cartão de crédito, que entre abril e maio caíram de 334,84% ao ano para 345,1% ao ano.
“O empresário reage muito bem à queda dos juros e ao controle da inflação, mas ainda depende do consumo. Nesse caso, com o desemprego ainda alto, o consumidor tende a manter um comportamento conservador”, explica o economista da Fecomércio-PE Rafael Ramos.
Para o professor de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) Joelson Sampaio, todos esses números reforçam que as primeiras medidas econômicas tomadas no início do governo Temer estão dando frutos. “Os indicadores não têm relação com o presente, mas com o que aconteceu antes da crise política”, acredita. Entre as sementes plantadas estão a escolha de uma equipe econômica que inspire confiança no mercado e o trabalho para conter a inflação e reduzir os juros.
Da mesma forma, os indicadores só irão revelar o impacto da crise política na economia mais na frente. “Vai afetar, mas é difícil saber o quanto. Essa semana será muito importante para entendermos isso”, conclui Sampaio, referindo-se à votação no TSE.