Os 3% estimados para o crescimento da economia brasileira neste ano deverão ser impulsionados, sobretudo, pela redução da Selic, na avaliação do economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita. A taxa básica de juros em um patamar mais baixo pode alavancar investimentos e consumo e, consequentemente, a atividade econômica - na semana passada, a Selic caiu pela 12ª vez consecutiva, a 6,5%. Para Mesquita, no plano fiscal, a reforma da Previdência é essencial para um ajuste e deverá ser retomada no início do ano que vem independentemente de quem vencer as eleições. "Não existe ajuste fiscal sem reforma da Previdência", diz. "A necessidade da reforma cobre praticamente todo o espectro político", acrescenta.
Economistas diziam que o Brasil estava se recuperando, mas que havia riscos externos, como o aumento da taxa de juros nos EUA e a possibilidade de o governo Trump adotar barreiras protecionistas. Esse cenário está se configurando, mas não vimos reflexo nos indicadores do Brasil. O que está acontecendo?
Já se esperava que a taxa de juros americana subisse. No Brasil, temos uma combinação de taxa de juros baixa para o padrão local e recuperação econômica. Isso tende a ter um efeito benéfico para as empresas, acaba atraindo capital e mitigando o impacto de volatilidade episódica nos mercados internacionais. Sobre as barreiras, vamos ver como serão implementadas. Por ora, se for contido a um problema do setor siderúrgico, o impacto tende a ser limitado. A preocupação é com efeitos colaterais ou com o processo de se tornar generalizado.
Nesse cenário, como vai a economia nacional?
O Brasil crescerá algo como 3% neste ano, saindo da recessão definitivamente. O crescimento deve refletir basicamente as decisões de política econômica, em especial a monetária do ano passado. A política monetária demora de seis a nove meses para ter seu efeito sobre a atividade. Há uma incipiente melhora do crédito, o que tende a alavancar a demanda. Por outro lado, vemos o PIB mundial crescendo 4%. Então vai ser mais um ano em que o Brasil encolhe perante o PIB mundial. A região como um todo, tirando o Peru, vai perder fatia de mercado em relação. É um problema sul-americano. Temos crescido pouco. Não temos conseguido melhorar a qualidade do treinamento da força de trabalho. E aí a produtividade cresce pouco.
O fato de a recuperação ser muito baseada na política monetária faz pensar que o restante da economia está em situação complicada. Há dificuldade na implementação de um ajuste fiscal?
Não existe ajuste fiscal sem reforma da Previdência. Acho que a necessidade da reforma cobre praticamente todo o espectro político. Obviamente, diferentes partidos têm diferentes versões de reforma. Se a reforma não ocorrer, em algum momento o País vai chegar aonde o Rio já chegou. A reforma vai ser discutida de novo no início do ano que vem praticamente sob qualquer cenário eleitoral. Não acho que o esforço de persuasão do ano passado esteja totalmente perdido. As pessoas estão cientes da necessidade da reforma. O próximo governo, como vai ser recém-eleito, provavelmente terá capital político para avançar nessa agenda.
Deveremos ter um déficit primários de quase R$ 160 bilhões em 2018. Podemos conviver com ele?
A gente vai conviver na medida em que o mundo acreditar que vamos enfrentá-lo. Por ora, as pessoas acreditam que haverá uma reforma da Previdência e outras medidas serão tomadas de modo a trazer o déficit para baixo e eventualmente gerar superávits primários suficientes para estabilizar a dívida. É questão de confiança. Vai depender do diagnóstico da nova equipe econômica e da capacidade de articulação do novo governo no Congresso.
Havia uma preocupação no mercado de que, sem a reforma da Previdência, a Selic voltaria a subir. Isso não ocorreu. Quão sustentável é a taxa de juros a 6,5%?
Sem a perspectiva de reforma, pode se tornar muito mais difícil manter a taxa de juros num patamar de um dígito. A configuração dos preços de ativos hoje reflete a crença de que a reforma será aprovada em 2019. Sobre a política monetária de curto prazo, a recessão aconteceu, foi profunda, gerou uma folga na utilização de recursos e permite que a taxa de juros fique nesse patamar até meados de 2019.
Qual o cenário para as eleições?
O consenso é de continuidade da política econômica em linhas gerais. Caso essa conjectura se mostre equivocada, teremos de repensar o cenário.
Tem um efeito Jair Bolsonaro nas contas?
Penso mais em equipe econômica e capacidade de articulação. Não estou preocupado com o nome do cabeça de chapa.
Então como vê uma equipe liderada por Paulo Guedes (conselheiro econômico de Bolsonaro)?
Não vou discutir nomes específicos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.