O principal sindicato à frente da greve de caminhoneiros que já dura cinco dias pediu a seus representados que suspendam os bloqueios de rodovias, depois que o governo anunciou a mobilização de tropas para pôr fim ao movimento.
O presidente Michel Temer ordenou nesta sexta-feira (25) que a Polícia e as Forças Armadas atuem contra os caminhoneiros que ignoraram um acordo assinado na véspera para suspender os bloqueios, que estão causando desabastecimento de alimentos e combustível em todo o país.
"Muitos caminhoneiros estão fazendo sua parte, mas infelizmente uma minoria radical tem bloqueado estradas, impedido que muitos caminhoneiros levem adiante o seu desejo de atender a população e fazer o seu trabalho", disse Temer.
O Exército, a Marinha e a Aeronáutica vão se mobilizar em uma ação "rápida, integrada e enérgica" e buscarão, antes de tudo, liberar a circulação em áreas "críticas", como refinarias, portos e aeroportos, detalhou posteriormente o ministro da Defesa, o general Joaquim Silva e Luna.
Diante da ameaça do governo, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), um dos principais sindicatos que havia rejeitado o acordo com o governo, pediu a suspensão dos bloqueios "por razões de segurança", embora sem cessar os protestos.
"Já mostramos a nossa força ao governo, que nos intitulou como minoria. Conseguimos parar 25 estados brasileiros com mais de 504 interdições", afirmou em um comunicado a Abcam, que fala da adesão de 700 mil caminhoneiros autônomos.
O ministro da Segurança Pública, Raúl Jungmann, garantiu na entrevista coletiva desta tarde que 45% dos bloqueios já haviam sido liberados, mas reconheceu que ainda restavam mais de 500 em todo o país, os mesmos apontado pela Abcam.
À espera de ver se os caminhoneiros acatam o pedido do sindicato, efetivos da Marinha foram enviados ao porto de Santos, enquanto a Força Aérea estava em contato com uma dezena de aeroportos que ficaram sem gasolina e o governo assegurou que autorizará, "caso seja necessário", a revista de caminhões pelas Forças Armadas.
O governo informou que o apoio das Forças Armadas está autorizado, a princípio, até o dia 4 de junho.
Jungmann disse que cerca de vinte empresários estão sendo investigados por crimes relacionados aos protestos.
A crise, a menos de cinco meses das eleições presidenciais, começou pela revolta dos caminhoneiros contra os sucessivos aumentos do diesel.
Esses aumentos são resultados da política de preços adotada pela Petrobras desde 2016 de alinhar os valores do combustível aos do mercado internacional, como estratégia para recompor suas finanças e sua imagem depois do seu envolvimento em escândalos de corrupção.
O acordo alcançado na quinta-feira previa a suspensão por 15 dias da paralisação, em contraposição ao corte do imposto sobre o diesel e da criação de um sistema de subsídios para prolongar a redução de 10% do preço do diesel na saída das refinarias. O acordo anunciado pela Petrobras inicialmente foi limitado a quinze dias.
"Hoje em dia, você pega um frete de 1.000 reais para ir a São Paulo, gasta 400 reais de diesel e 400 reais de pedágio. Sobram 200 reais. Como você vai comer? O que vai sobrar para a sua família?", disse à AFP Luciano Constant, caminhoneiro autônomo de 43 anos que participava de um bloqueio nessa localidade.
Em cinco dias, o país ficou à beira de um colapso.
A greve obrigou o cancelamento de voos no aeroporto de Brasília, paralisou totalmente as cadeias de montagem de automóveis, reduziu a atividade de grandes frigoríficos e provocou uma alta dos preços de combustíveis e alimentos.
A Prefeitura de São Paulo decretou estado de emergência, medida que lhe permitirá, entre outros pontos, requisitar ou apreender bens privados, como o combustível armazenado em um posto.
A crise questiona a capacidade de articulação política do governo até sua passagem de poder, em janeiro, e de dar um apoio eficaz a seu candidato, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
Temer já recorreu em várias ocasiões às Forças Armadas para enfrentar algumas das crises que marcaram seus dois anos de mandato.
O presidente convocou as Forças Armadas para várias "operações de garantia da lei e da ordem" em estados que vivem graves crises de segurança, e decretou em 2017 a intervenção militar na área de segurança do Rio de Janeiro.
"A proposta do governo de convocar as Forças Armadas como instrumento de repressão é querer apagar fogo com gasolina: vai instigar o conflito e dificultar uma solução equilibrada", afirmaram em comunicado conjunto as principais centrais sindicar do país, que se ofereceram para fazer uma mediação e encontrar uma solução.
A Anistia Internacional considerou "inadmissível" o uso das tropas, lembrando que esse não é o seu papel e que a liberdade de manifestação é um direito humano.