Acordo com caminhoneiros enfrenta resistências e pode parar na Justiça

No Planalto existe a preocupação pelo futuro das negociações que encerrou a greve dos caminhoneiros
Estadão Conteúdo
Publicado em 07/06/2018 às 11:58
BRASIL Cerca de 70% das mercadorias são transportadas por rodovias o que torna a logística brasileira dependente dos caminhões Foto: Divulgação


Menos de uma semana após seu lançamento, o pacote do governo para encerrar a greve dos caminhoneiros está ameaçado, por desagradar a outros setores e recorrer a medidas consideradas inconstitucionais. Se sobreviver e for implementado, ainda corre o risco de ser desmontado nos tribunais.

No Planalto, os auxiliares mais próximos do presidente Michel Temer temem pelo futuro das negociações, feitas sob pressão. E há grande preocupação com uma nova paralisação, apesar de agora o movimento não contar mais com o apoio das transportadoras. O medo é em relação aos grupos mais radicais de caminhoneiros autônomos.

Mas, para o ministro dos Transportes, Valter Casimiro, o acordo continua, porque o governo está cumprindo o que prometeu. Segundo ele, o Ministério dos Transportes mantém um "fórum permanente" para tratar do tema e não houve ameaça pelos caminhoneiros de retorno à paralisação nas estradas.

Dúvidas

O governo recuou na quarta-feira (6) da medida de maior visibilidade do pacote, o desconto de R$ 0,46 no litro do diesel Em entrevista à rádio CBN, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu que o corte será menor: R$ 0,41. O argumento é que o desconto só incide sobre o diesel, mas o que é comercializado nos postos contém 10% de biocombustíveis, sobre o qual não houve corte. O raciocínio, porém, é refutado pela Aprobio, a associação dos produtores de biodiesel, que diz que o corte prometido se refere ao produto na saída da refinaria.

Além disso, após prometer o uso do "poder de polícia" para garantir o repasse do desconto aos consumidores nos postos, o governo passou a admitir, internamente, que as multas aplicadas pelos Procons podem virar alvo de batalha na Justiça, já que o preço dos combustíveis é livre. "Se multar, a Justiça derruba no dia seguinte", disse Arthur Rollo, ex-secretário Nacional do Consumidor.

Uma fonte do Palácio do Planalto avaliou na quarta-feira (6) que o governo perdeu o controle sobre outra questão que gerou grande pressão durante a paralisação: a periodicidade dos reajustes. Depois de muitas declarações desencontradas e do pedido de demissão de Pedro Parente da Petrobrás, a questão foi entregue à Agência Nacional de Petróleo (ANP), para uma consulta pública. Para esse interlocutor do presidente Temer, agora só resta "ficar na torcida".

A tabela do frete mínimo, outra antiga reivindicação dos caminhoneiros atendida, está em revisão por pressão do agronegócio. No Planalto, há temor em contrariar um lado ou outro da disputa. A avaliação, além disso, é que o tabelamento é inconstitucional, porque fere o princípio da livre concorrência. Por isso, entidades empresariais consideram derrubar a tabela nos tribunais, se não ficarem satisfeitas com a revisão.

Outra medida adotada e que gera dor de cabeça é a isenção de pedágio sobre os eixos suspensos de caminhões vazios nas rodovias concedidas por Estados e municípios. As concessionárias deixaram de cobrar o pedágio, mas vão ficar com um buraco nas contas. E vão pedir medidas para reequilibrar seus contratos. A isenção do pedágio, determinada pelo governo federal sobre concessões que são de outras esferas de governo, também pode ter sua constitucionalidade questionada.

TAGS
CAMINHONEIROS negociação Michel temer
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory