Com a falta de emprego atingindo mais de 27 milhões de pessoas em todo o País, segundo dados divulgados ao fim do primeiro trimestre de 2018 pelo IBGE, novas oportunidades surgidas com o crescimento do mercado pet ajudam a complementar o salário ou até se tornam a principal fonte de renda de muita gente.
Registrando um crescimento acima da média dos demais segmentos econômicos (7,9% entre 2016 e 2017), o setor de cuidados com animais movimentou mais de R$ 32 bilhões no ano passado e, com essa expansão, vem consolidando profissões como dogwalker, pet sitter e serviços de hospedagem animal.
Quarto maior país do mundo em número de animais domésticos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil conta atualmente com uma população de 132 milhões de pets que demandam aos tutores o desprendimento de um tempo cada vez mais escasso. “O País em si ainda está se recuperando da crise, mas o mercado pet soube se aproveitar disso e, diferente de outros segmentos, cresceu. A gente tem captado muita gente que estava desempregada, atendendo às necessidades dos donos de animais – sobretudo na correria das grandes cidades – e conferindo uma remuneração boa a quem estava fora do mercado de trabalho”, diz o vice-presidente de comércio e serviços do instituto Pet Brasil, Nelo Marraccini.
De olho no crescimento quase diário da contratação de pessoas para passeio com animais (dogwalker), cuidados em casa (pet sitter) e hospedagem dos pets, via redes sociais, a plataforma online PetAnjo resolveu investir na profissionalização das pessoas dispostas a oferecer esses serviços. “Nos primeiros dois anos atuávamos só em São Paulo, onde fica nosso escritório, e depois disso expandimos para todo o Brasil. Atualmente, já estamos no quarto ano de funcionamento e saímos de 10 anjos (pessoas que oferecem os serviços na plataforma) para um total de 3 mil”, comemora a médica veterinária responsável pela empresa, Carol Rocha. Segundo ela, no segundo semestre de 2016 – período de recessão – enquanto a procura pelos serviços diminuía, os pedidos de cadastro de anjos aumentavam ao ponto de se criar uma lista de espera. “A depender da região, tem pessoas nessa lista até hoje. Com a capacitação, temos conseguido atender às exigências dos clientes, fidelizando-os e garantido uma boa remuneração aos nossos parceiros”, explica.
Para prestar algum dos serviços a partir da plataforma, as pessoas precisam passar por um processo de avaliação de cadastro e fazer cursos online com certificação internacional. “O único gasto para trabalhar conosco é uma taxa de R$ 80 para um dos cursos. Entre o dogwalker, pet sitter e hospedagem, a remuneração varia dos R$ 15 aos R$ 120 por atividade prestada. Trinta por cento de cada atendimento fica conosco e o restante para o anjo, que recebe o valor direto na conta, assim que o pagamento do cliente é efetivado. Por mês, já tem gente conseguindo entre R$ 600 e 3 mil”, revela Carol. Cerca de 85% dos anjos são mulheres e pelo menos 30% entraram na plataforma por não terem conseguido um emprego de carteira assinada.
Formada em psicologia, Nara Sá, 32, resolveu se aventurar na plataforma. Nas suas folgas – três vezes por semana – passou a oferecer os serviços. “Como não tinha muito tempo disponível, na semana consigo uma média de R$ 110. Me tornei anjo há cerca de um ano e sempre teve uma demanda muito grande a ser atendida, sobretudo na Zona Sul do Recife”, comenta.
Na outra ponta do mercado, os clientes, embora avaliem como alto os custos com os pets, não pensam em abrir mão dos cuidados com os animais. “Tanto eu como meu marido trabalhamos e ficamos preocupados em deixar nossa cachorrinha sozinha em casa. Por semana, com pet sitter e dogwalker, gasto, em média, R$ 110, fora petshop, alimentação e medicamentos. Tudo isso chega ao montante de R$ 1 mil ao mês, sem contar mais alguns mimos. Mesmo sendo um custo alto, eu não abro mão de jeito nenhum”, enfatiza a engenheira química e tutora de Mavis, cão da raça golden retriever, Alexsandra Vania Lobo, 31.