Com a mesma velocidade que o coronavírus se espalhou no fim de semana, com vítimas em vários países, o medo de uma recessão global e a incerteza causada pela falta de transparência do governo chinês atingiu os mercados financeiros ao redor do mundo No Brasil, a Bolsa recuou na segunda-feira (27) 4 mil pontos com as grandes produtoras de commodities brasileiras - Vale, Petrobrás, Gerdau, CSN e Suzano - perdendo em um único dia R$ 42,343 bilhões em valor de mercado. As empresas de carne JBS, BRF, Marfrig e Minerva também sofreram, despencando R$ 8,072 bilhões. Ou seja, as perdas passaram de R$ 50 bilhões.
No mercado cambial, o dólar teve alta de 0,60% e o índice que aponta a capacidade de honrar compromissos do País, o CDS, chegou a atingir 110 pontos no início da tarde, para fechar em cerca de 107 pontos. Na semana passada, o indicador chegou a ficar abaixo de 100.
Vários motivos ajudaram no crescimento do temor global em relação ao avanço da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que havia divulgado a classificação do risco global do coronavírus como "moderado", corrigiu a informação para "elevado". Em relatório sobre o surto, a OMS disse que, nos comunicados anteriores, havia divulgado a avaliação errada. Segundo a entidade, o risco permanece "muito elevado" na China e "elevado" na região do país asiático.
Por outro lado, autoridades chinesas admitiram que informações sobre o contágio não foram divulgadas com agilidade. Segundo o prefeito da cidade de Wuhan, epicentro da crise, o governo local só poderia divulgar informações depois de obter autorização do governo central. Antes de a cidade ser fechada, 5 milhões viajaram por causa do Festival da Primavera. De acordo com o sócio da Eleven Financial, Raphael Figueredo, o mercado "não tem medo de crise, mas de incertezas".
Especialistas de todo o mundo começaram a fazer previsões sobre o impacto da doença na economia chinesa - e global, por consequência. O banco dinamarquês Danske Bank estimou que o surto pode reduzir o PIB da China em 0,8 ponto porcentual no primeiro semestre. O motivo: a Província de Hubei, onde fica a cidade epicentro da doença, representa 4% da economia chinesa. A consultoria Capital Economics, por sua vez, diz que o surto terá "impacto significativo" no PIB do país no primeiro trimestre.
Com menor crescimento da China, maior compradora de commodities do mundo, as ações de empresas brasileiras ligadas à área sofreram muito. Segundo Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, as empresas sofrem mais com a exposição ao exterior. "Além disso, o mercado subia apenas por questões internas, com as pessoas tirando dinheiro da renda fixa para a variável", diz. "Com os estrangeiros buscando opções mais seguras, a Bolsa brasileira sofre."