Comércio à espera de gols da seleção

A menos de uma semana para o início da Copa do Mundo, o verde e amarelo ainda não conseguiu fazer o consumidor colocar a mão no bolso
Luiza Freitas
Publicado em 10/06/2018 às 7:33
A menos de uma semana para o início da Copa do Mundo, o verde e amarelo ainda não conseguiu fazer o consumidor colocar a mão no bolso Foto: Diego Nigro/JC Imagem


A cada quatro anos, o varejo brasileiro acrescenta a Copa do Mundo de futebol a seu calendário de datas que promovem aquecimento de vendas. A menos de uma semana para o início das partidas oficiais, no entanto, o verde e amarelo ainda não conseguiu fazer o consumidor colocar a mão no bolso. Com uma economia debilitada, as consequências ainda sentidas da paralisação dos caminhoneiros e a lembrança vívida do desempenho decepcionante dos atletas no último mundial, as projeções para este ano não são as melhores. Não só o hexa, mas também o movimento nas lojas depende mais do que nunca de uma seleção que faça a torcida vestir a camisa.

Trabalhando há 20 anos em uma banca próxima ao Mercado de São José, no bairro homônimo, no Centro do Recife, Vânia Ferreira, 56 anos, diz que nunca viu um movimento tão fraco próximo à Copa. “As mercadorias chegaram logo no início da greve (dos caminhoneiros), então acabamos perdendo alguns dias. Agora é esperar que à medida que o Brasil vá ganhando, as pessoas se animem para comprar mais”, diz. Entre os produtos que oferece estão camisas da seleção e conjuntos para adultos e crianças, que variam de R$ 12 a R$ 30.

Como a maior parte dos artigos vendidos para a Copa é de baixo custo, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL/Recife), Cid Lôbo, defende que a baixa das vendas se deve mais à decepção da população com a derrota na Copa de 2014. “Não dá para dizer ainda quanto esse movimento vai representar para o comércio. Isso vai ficar mais claro depois que o Brasil ganhar o primeiro jogo. As ruas sempre se enfeitam, o que vai mudar é o tamanho da festa”, afirma Lôbo.
Segundo ele, a expectativa inicial para o mês de junho – que inclui ainda o Dia dos Namorados e o São João – é de aumento de 4% nas vendas do comércio de rua na capital. No Rio de Janeiro, a previsão da CDL local é ainda pior: 1% de aumento de vendas no período.

Especializada em artigos para festas, a Casa Lapa, também no bairro de São José, reduziu em 50% o volume de encomendas focadas na Copa do Mundo para este ano em comparação ao último mundial. “Decidimos manter a variedade mas, como não estávamos sentindo os consumidores muito animados, diminuímos a quantidade dos pedidos. Até agora, a procura maior tem sido por artigos de São João”, explica a subgerente da loja, Jeane Xavier.

Outra estratégia é colorir de verde e amarelo os enfeites juninos, atendendo, assim, às duas demandas. Nessa linha, a loja oferece bandeirinhas a partir de R$ 2,7 e balões a partir de R$ 5,55.

"Vamos sentir uma diferença ainda maior nas vendas dessa Copa porque a anterior foi realizada no Brasil e Recife foi uma das sedes. Então além de este ano as pessoas estarem menos dispostas a gastar em função dos jogos pela situação atual, a comparação fica ainda mais gritante pelo fato de os jogos serem em outro país”, analisa o economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos.

Comportamento

Para o professor do Departamento de Economia e pesquisador da Universidade Makenzie, em São Paulo, Pedro Raffy Vartanian, a lentidão nas vendas de produtos antes da Copa do Mundo vai além do poder aquisitivo dos brasileiros ou do desempenho dos jogadores.

“De uma forma geral, acredito que houve uma mudança no comportamento da população. Há muitos anos o impacto que as copas causavam era maior. Provavelmente, a cada nova edição o tempo de ocupação com trabalho e deslocamento das pessoas aumenta, fazendo com que elas dediquem menos atenção a esse momento antes do início dos jogos”, acredita Vartanian. Apesar dessa mudança de cenário, o economista destaca que o setor de bares e restaurantes, por exemplo, continua sendo beneficiado após o início dos jogos.

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