A crise nem passa perto da Marie Mercié que produz 30 mil peças de roupas por mês. Em 2013, a empresa registrou um crescimento de 25% sobre as vendas do ano anterior. A companhia construiu uma rede de compradores a partir de três lojas instaladas em São Paulo que vendem os produtos da grife para o atacado, além de exportar para seis países. “As minhas peças vendem como água. Pensamos em crescer mais. No entanto, um empecilho ao crescimento é a mão de obra qualificada que é escassa”, diz a fundadora da empresa, Mércia Moura. Em média, uma blusa da grife é comercializada por R$ 280.
Para minimizar o problema, foi implantada dentro da fábrica uma escolinha de costura que tem, em média, 12 alunas por mês. As aprendizes ganham um salário mínimo por mês, enquanto estão na fase inicial do aprendizado. Depois disso, as que se destacam vão passando para outros setores da empresa. “De cada 10 alunas, duas ficam”, conta Mércia. Até a atual professora da escolinha, Raíra Tamara de Souza Pontes, começou como aprendiz há cinco anos.
Aos 19 anos, a estudante Joyce Conceição de Lima afirma não ter passado por uma experiência desse tipo: “receber para aprender”. Ela enxerga no curso de costura uma “oportunidade” a qual está fazendo tudo para dar certo. Nos últimos dois anos, procurou emprego nas redondezas e só conseguiu uma vaga para vendedora no comércio nas festas de fim de ano.
Além da escolinha, a empresa terceiriza uma parte da sua produção feita manualmente. São 150 prestadores de serviços que aplicam pedras, miçangas e dão o acabamento aos bordados feitos nas máquinas. Desse total, 40 são homens. Um deles é o aposentado Severino José da Silva, que usa várias tesourinhas para fazer a “revisão” dos bordados. “Comecei a fazer isso depois que me aposentei há três anos. Aprendi com as minhas filhas. O dinheiro ajuda a comprar um bujão de gás, pagar uma conta de luz”, conclui. Ele trabalhou durante 44 anos no corte da cana.
Não foram só os ex-cortadores de cana que se aventuraram num novo ramo. Quando o negócio começou nem a sua fundadora, Mércia Moura, era do ramo. Ela tinha deixado o curso de desenho industrial, porque tinha se casado e foi morar no Engenho Bangauá. No início, ela “desmanchava” as roupas que gostava, fazendo réplicas para uso próprio e dos seus três filhos. Depois, chamou quatro mulheres, todas da comunidade. “Na época, nem eu sabia costurar, nem elas”, conta.
Criada há 29 anos, a fábrica vendia toda a sua produção para uma loja recifense chamada Ele & Ela. “Até que fui participar de uma Fenit (grande feira da indústria têxtil). Aí o pessoal de São Paulo começou a comprar toda a minha produção. Quatro anos depois, comprei uma loja em São Paulo para vender ao atacado”, diz. Este ano, a empresa abriu duas lojas (de varejo) sendo uma no Rio Mar e outra no Shopping Center Recife. “É um projeto piloto, porque a nossa intenção é fazer franquias para vender as roupas da Marie Mercié”, conclui.