Postos de gasolina abandonados no Recife são alvo de construtores

Não é preciso circular muito pelo Recife para encontrar postos de combustíveis abandonados. Afinal, eles estão em todas as regiões da cidade. Alguns estão fechados há pelo menos 15 anos, segundo apurou o JC. E boa parte não tem perspectiva de voltar à ativa. Independentemente da situação em que se encontram, bem ou malconservados, o terreno onde estão localizados se transforma em presa fácil de investidores imobiliários.

“Com o mercado de imóveis em alta, o proprietário do terreno vai negociar o melhor metro quadrado”, diz o presidente do sindicato que reúne os donos de postos no Estado (Sindicombustíveis-PE), Alfredo Ramos. “O de Boa Viagem tem proposta de tudo quanto é construtora”, afirma. Ele se refere ao Posto Shell da Avenida Domingos Ferreira, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul. Segundo o vigilante do local, que prefere não ser identificado, o estabelecimento está fechado há cerca de três anos. “O nível do posto está mais baixo do que o da rua. Então, quando chove, a água escorre e entra nos sete tanques de gasolina. O dono tentou consertar, mais ficaria muito caro. Acho que aqui vai ser construído dois prédios desses daí”, conjectura, apontando para os edifícios vizinhos.

No bairro da Torre, na Zona Oeste, outro posto da mesma bandeira está sem funcionamento. “Faz mais de dois anos”, rememora o vigilante, que também prefere ter a identidade preservada. “O dono tem outro posto, que funciona, mas não sei o que vai ser feito com este daqui”, conta.

Também rodeado de espigões está o Ale, na Encruzilhada, na mesma região. O estabelecimento está em obras há um ano e meio, época em que o contrato com a Ale foi expirado e não mais renovado, diz o gerente responsável pela obra, Ezequías Oliveira. “Estamos reformando para adequá-lo às exigências técnicas, mas não sei qual será a bandeira”, afirma Ezequías. Ele diz não saber quem é o proprietário do terreno. Mais afastados de áreas com presença intensa de edifícios, os postos Ipiranga (Afogados, Zona Oeste), BR (São José, Centro) e Shell (Santo Amaro, Centro) estão abandonados há três, quinze e cinco anos, respectivamente, segundo os moradores locais.

Um dos fatores que podem ter influenciado no fechamento desses estabelecimentos é o mercado. De acordo com o economista da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan) Jorge Jabotá administrar um posto de gasolina requer muito planejamento. “Eu já vi muito posto abrir e fechar. É preciso uma boa gestão”, diz. O economista destaca que focar apenas na venda da gasolina, álcool ou diesel é um erro. “Tem que ter outros serviços, como lavagem de veículos e loja de conveniência. Mas tudo de boa qualidade”, ressalva.

Apesar da visibilidade, o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Pernambuco (Creci-PE), Petrus Mendonça, ressalva que alguns terrenos apresentam condições desfavoráveis quando a intenção é construir um prédio. “O terreno deve ser grande, para possibilitar a construção do prédio. Agora, tem postos maiores, que ocupam até meio quarteirão e têm uma boa infraestrutura. Esses, naturalmente, são bem visados”, pontua, lembrando de outro fator: a esquina. “Imóvel de esquina precisa ter um recuo de três metros, que é o dobro se estivesse no meio do quarteirão”, destaca.