Tudo está mais caro. Nestes 53 dias do segundo mandato de Dilma Rousseff, o cidadão brasileiro, em grande parte, sente no bolso os efeitos de uma política econômica equivocada. A inflação morde os salários e os juros altos, dificultando o acesso ao crédito, travam a economia.
O dragão da inflação não voltou por acaso. O que era para ter sido reajustado desde o ano passado (energia e combustíveis que são preços administrados pelo governo federal e as passagens de ônibus autorizadas pelo governo do Estado) foi demagogicamente empurrado para 2015 por causa das eleições de 2014. Como não existe mágica, os aumentos se acumularam.
Vários reajustes que ocorreram em janeiro último foram maiores do que a média da alta dos preços acumulada nos últimos 12 meses, que ficou em 6,32% na Região Metropolitana do Recife (RMR), segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em janeiro último, aumentou o preço da energia, combustível, mensalidade escolar, IPTU, salário mínimo, passagens de ônibus e principalmente os alimentos. “Transporte, habitação e alimentos são responsáveis por quase 80% do crescimento da inflação, cujo aumento se concentra nesses três setores”, explica o economista da consultoria Ceplan, Jorge Jatobá.
Os reajustes dos combustíveis e da energia afetam todos os setores produtivos, indo desde uma pequeno comércio, como uma lanchonete, até as grandes indústrias. Claro que o custo da empresa vai parar nos preços finais ao consumidor.
“Fiquei assustada com o preço da batata, coentro e arroz. A minha feira de cereais, secos e material de limpeza custou R$ 100 a mais do que a do mês passado, adquirindo exatamente as mesmas coisas. O consumidor só tem duas opções: ou gasta mais ou diminui a quantidade de compras, porque o salário está valendo menos”, diz, indignada, a assistente administrativa, Nadja Maria da Silva. Ela cita pelo menos dois produtos que aumentaram em 50% e mais de 100%. “O coentro saiu de R$ 1 para R$ 1,50. A batata inglesa chegou a R$ 5 o quilo, quando há dois meses se comprava por R$ 2.”
Outro aumento que assustou os consumidores foi o da energia elétrica. “A minha conta chegou a ter um acréscimo de R$ 15, comparando a de janeiro com a de dezembro”, lamenta Nadja. Isso significou um acréscimo de 10% no valor total. O reajuste foi provocado pela cobrança da bandeira tarifária vermelha, uma espécie de gatilho que repassa para o consumidor final a alta do preço da energia já no mês seguinte. Só a bandeira vermelha gerou uma cobrança de R$ 12 na conta de fevereiro de Nadja. Ainda no mesmo mês, apareceram duas taxas da Conta de Desenvolvimento Econômico (CDE) que acrescentaram mais R$ 3 na conta. Essa cobrança da CDE foi referente aos meses de junho e julho de 2014. Ou seja, o governo federal emprestou dinheiro para as distribuidoras, como a Celpe, pagarem a alta da energia das térmicas no ano passado e agora mandou a fatura para o consumidor. A CDE é um encargo que banca a energia produzida pelas termelétricas.
Mas por que as térmicas passaram a produzir uma energia mais cara? A seca que atingiu o País fez baixar a quantidade de água nos reservatórios de cerca de 70% das principais hidrelétricas. “Isso mostra a falta de planejamento de um País que até hoje depende das chuvas para ter energia”, argumenta Jatobá.
A escassez de água não afetou apenas a geração de energia. Também contribuiu para o aumento do preço de vários produtos alimentícios, como por exemplo leite em pó e laticínios. “Essa alta dos preços reflete um descontrole da economia e dos gastos públicos. É uma cadeia que vai desde o feijão até o supérfluo”, lamenta o balconista João Carlos Pinto Cardoso. Ele não cansa de citar exemplos. “Enchia o tanque com R$ 200. Agora, são R$ 250. A escola da minha sobrinha tinha uma mensalidade de R$ 250 em dezembro e este mês ficou em R$ 320. Estou gastando R$ 335 para fazer a feira, quando essa compra saía por R$ 280 em janeiro do ano passado. Estou sentindo a perda do poder de compra do meu salário”, comenta.
E, para completar este cenário de alta, o dólar está subindo muito por causa da conjuntura nacional (petrolão) e internacional (Grécia, China etc). “Boa parte do que é vendido no Brasil tem um componente importado e essa alta da moeda americana encarece tudo”, explica o sócio da trading Brasmundi, Júlio Souza. Ele não está exagerando. A alta do dólar fez subir desde o preço do pãozinho (grande parte do trigo consumido no Brasil é importado) até uma bateria automotiva que mesmo sendo fabricada localmente usa o chumbo e cobre importados.
Mesmo com a alta generalizada dos preços, a inflação não está fora do controle, segundo a opinião de Jatobá. “Essa alta é um resíduo inflacionário de 2014. E alguns produtos como os combustíveis estavam subsidiados (pelo governo federal) e os preços tinham que ser reajustados”, defende.
Os combustíveis (diesel e gasolina) tiveram um novo reajuste durante o Carnaval com uma alta que deve chegar na próxima semana aos postos da capital pernambucana, provocando um acréscimo de R$ 0,04 a R$0,06 no litro do diesel e de R$0,08 a R$ 0,13 no litro da gasolina, segundo empresários do setor. E isso pode significar mais reajustes a vista. E aí o economista Jorge Jatobá dá um conselho aos consumidores: “Ser mais seletivo, comprar mais os bens essenciais e diminuir os supérfluos. Substituir o que está muito mais caro por outros produtos mais baratos”.