Fundos de capital de risco miram o Nordeste

Empresas instaladas na Região atraem atenção de grandes investidores com interesse em ampliar negócios
Leonardo Spinelli
Publicado em 05/04/2015 às 8:03
Empresas instaladas na Região atraem atenção de grandes investidores com interesse em ampliar negócios Foto: Priscila Buhr/Acervo JC Imagem


A crise da economia brasileira tem o poder de reduzir o valor das empresas simplesmente porque fica mais difícil vender e, consequentemente, gerar lucro. Além disso, a piora na atividade captada pela quase estagnação do PIB em 2014 (0,1%) ainda gera restrições ao crédito, dificultando a vida do empresário que precisa levantar recursos para investir e ganhar mercado. Neste momento de dificuldade, no entanto, os fundos de capital de risco surgem como uma alternativa de captação e as empresas instaladas no Nordeste passaram a atrair a atenção desses grandes investidores, cujo interesse é apoiar negócios por meio da compra de participação acionária. Pelo menos três deles aparecem hoje com potencial de investir R$ 1,2 bilhão em empresas que operam no Nordeste.

“A região é a terceira maior economia do País e representa 14% do PIB nacional. É uma economia de R$ 500 bilhões e ainda tem uma baixa presença de fundos de private equity. Eu vejo a região com boas oportunidades de investimento mesmo dentro do atual momento da economia, pois a região mantém um crescimento acima da média nacional e vai continuar entregando essa média superior”, justifica Eduardo Monte, co-gestor do fundo Rio Bravo Nordeste III, que já captou cerca de R$ 240 milhões para investir na região da Sudene (Nordeste e norte de Minas e Espírito Santo) e poderá chegar a R$ 350 milhões em novas rodadas de negociação. Entre os investidores estão fundos de pensão e bancos de desenvolvimento, todos de capital nacional.

O Fundo Nordeste III é a terceira empreitada na região da gestora Rio Bravo, criada pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, que administra uma carteira de R$ 10 bilhões. Nesta nova fase, a Rio Bravo procura investir em empresas do chamado “middle marketing”, ou seja, companhias com capacidade de geração de caixa que faturam entre R$ 30 milhões a R$ 250 milhões. “Nosso interesse é investir de R$ 30 milhões a R$ 50 milhões por empresa e o que define o tamanho da nossa participação são os recursos que vamos colocar no caixa. Muito mais do que colocar dinheiro no bolso do empreendedor, queremos jogar recursos no caixa da empresa para viabilizar investimentos de forma a gerar o crescimento planejado”, diz o executivo.

O Rio Bravo procura modelo de negócios já consolidados e que já disponham de planos de negócios definidos e saibam como vão crescer e aonde querem chegar.

ONDE INVESTIR

O Fundo FIR Capital, que tem entre os sócios o executivo do pernambucano Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, já captou R$ 450 milhões e está em fase de negociação com seis empresas, uma ligada à área de infraestrutura, duas do setor imobiliário, duas da indústria e outra do área de agropecuária, todas do Nordeste. Sobre a crise que ameaça ainda mais as empresas ligadas aos setores de infraestrutura e imobiliário, Dalla Nora utiliza-se de uma máxima do setor: comprar na baixa para vender na alta. “Este é o momento de captar para comprar participações menos valorizadas. Como o mercado está mais difícil, a expectativa de preço das companhias cai. Olhando para o horizonte de 5 a 7 anos, quando essa crise já tiver passado, vemos que este é o momento ideal para investir”, explica.

As empresas que a FIR Capital vem prospectando têm faturamento entre R$ 50 milhões a R$ 250 milhões. O interesse é manter o investimento entre 5 a 7 anos, “padrão de mercado”, informa Dalla Nora, para depois se desfazer do negócio. “São setores diversificados, mas todas elas têm em algo em comum. Estão em áreas com forte crescimento nos últimos anos no Nordeste”, diz o executivo. Ele explica que o FIR comprou a divisão de investimentos do Banco Gerador e que, desde então, o fundo, de origem mineira, passou a ter interesse também pelas empresas da Região. A FIR trabalha com investidores estrangeiros que também chegam com vantagem no mercado local por causa da desvalorização do real. “Há seis meses US$ 100 milhões equivalia a R$ 230 milhões. Hoje está acima de R$ 300 milhões. Dá para comprar mais”, contabiliza Dalla Nora.

Eduardo Monte, da Rio Bravo, diz ainda que além de investir na empresa, fundos como o seu ajudam a construir uma melhor governança, com o intuito de melhorar a operação. “Com a nossa entrada, ajudamos a construir esse objetivo a quatro mãos”, diz. O fundo procura empresas dos setores de saúde e educação. “Neste momento, são os segmentos que são menos afetados pela menor atividade econômica”, explica, salientando que empresas do setor de bens de consumo, como alimentos, bebidas e alimentação saudável também estão na mira. “Essas são beneficiadas pelo crescimento da Região que ganhou maior poder aquisitivo e distribuição de renda.” O Rio Bravo também estuda empreendimentos ligados à alimentação fora do lar e varejo de moda.

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