O comércio do Centro do Recife ficou especialmente vazio nesta terça (14). A semana não é nada animadora. Além da crise, que vem atingindo vendas e empregos, comerciantes amargaram queda acentuada dos negócios devido à greve dos metroviários. Amanhã o calendário será marcado pelo feriado municipal de Nossa Senhora do Carmo, que mudará o horário de algumas operações.
De loja em loja, os relatos repetem-se: ticket médio do consumidor caiu, vendas esfriaram, custo está alto, demissões são inevitáveis. Avisos de promoção viraram permanentes. O cenário mostra o fim de um ciclo de expansão do consumo. O crédito farto também deixou de herança o endividamento.
Gerenciando a loja do avô desde 1992, Marcelo Soares diz que o negócio já passou por situações piores, mas há 15 anos não vivencia conjuntura como esta. Antes restrita a móvel e colchão, a operação agora vende também tapete, eletrodoméstico, panela e celular.
As vendas caíram cerca de 20% na comparação com 2014. Nesta terça (14), com a greve, o movimento caiu pela metade. “Estou diversificando, tentando achar novos nichos de mercado para alavancar as vendas”, conta Marcelo Soares, que reduziu de quatro para dois o número de funcionários diretos.
“Primeiro o aluguel, que está muito caro. Segundo, o movimento”, são as principais justificativas de Djalma Albuquerque, há 20 anos no Centro, para os maus resultados do ano.
Na avaliação do diretor de estudos e pesquisas socioeconômicas da Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães, o cenário tem a ver com o mercado de trabalho, que parou de se expandir, e a menor disponibilidade para o consumo. “Ao longo do ciclo de expansão, houve um processo de endividamento crescente, o crédito é uma das molas propulsoras do nosso sistema. E há o problema particular da elevada taxa de juros, que comprometeu rapidamente a capacidade de consumo”, comenta.
Em junho, havia 56,5 milhões de consumidores com o nome inscrito no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). O número de inadimplentes aumento 4,52% em junho em relação ao mesmo mês do ano passado. A alta foi levemente menor do que a registrada em maio(4,79%).
IBGE
Em maio, o varejo teve o quarto mês seguido de resultados negativos. Com ajuste sazonal, o volume de vendas caiu -0,9% ante abril (o pior resultado mensal para o mês desde 1991), enquanto a variação da receita nominal permaneceu constante (0,0%). Os dados foram divulgados nesta terça (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação a maio de 2014 (sem ajuste), o volume de vendas caiu -4,5%, e a receita nominal cresceu 1,9%. No acumulado do ano, esses resultados foram, respectivamente, -2,0% e 4,1%. No acumulado dos últimos 12 meses, -0,5% e 5,7%.
As maiores quedas anuais foram nos ramos de móveis e eletrodomésticos (-18,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-11,8%). “Maio é um mês que historicamente deveria ter tido um impacto positivo por causa da Dia das Mães. Mas, em função da diminuição da renda e do crédito, o desempenho foi desfavorável”, analisa a gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Juliana Paiva.
Outro setor que sentiu os impactos foi o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumos (-2,1%). Tecidos, vestuário e calçados também tiveram retração expressiva (-7,7%). As vendas do varejo ampliado (que inclui veículos e materiais de construção) caíram 7% nos cinco primeiros meses de 2015 e 5% nos últimos 12 meses.