Região do Douro mistura tradição, paisagem, cultura, sabores e aromas

Estrutura de prodção de uva se assemelha a de cana-d-açúcar do Nordeste
Da editoria de economia
Publicado em 20/08/2015 às 7:00
Estrutura de prodção de uva se assemelha a de cana-d-açúcar do Nordeste Foto: Rui Manuel Ferreira/Divulgação


A uva e o vinho estão para o Douro, ao norte de Portugal, como a cana-de-açúcar para o Nordeste do Brasil. A comparação é válida desde a estrutura de produção, em que empresas e famílias se misturam, a tradições, paisagem, cultura, sabores e aromas. É nessa região europeia onde fica a Quinta Maria Izabel, que começa a construir sua história em uma terra que há séculos incorpora estrangeiros à produção da bebida portuguesa por excelência, o Vinho do Porto.


Vale ressatar de pronto que o Douro não produz só essa variedade mais forte e adocicada da bebida. Mas o Vinho do Porto é um fio-condutor para destacar a força dessa região, onde os primeiros registros da fabricação de vinho remontam há 2 mil anos, época do Império Romano.

A bebida, apesar do nome, não é produzida na bela Cidade do Porto. Só foi assim batizada, por volta de 1.600, porque após a fabricação longe da costa, no Douro, seguia de barco até a cidade portuária, onde era estocada até a exportação. O Rio Douro, com águas que correm em um vale com encostas domadas por degraus, para a plantação das vinhas, tem uma paisagem tão estonteante que é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Por ser o local onde era armazenado para envelhecer e depois ser exportado, o Vinho do Porto ganhou o nome da cidade por volta de 1.600. Inclusive, a bebida ganhou sua conhecida graduação alcoólica alta, de 19% a 22%, para sobreviver às longas viagens de navio. Como o vinho estragava durante a viagem, os produtores começaram a adicionar aguardante à mistura. Seu destino era principalmente a Inglaterra.

A expressão internacional deu há séculos dimensão global à região, onde empresas contam sua história misturadas às de família que estão no negócio há dez e até 15 gerações, como é o caso da Niepoort, de Dirk Niepoort, o consultor da Quinta Maria Izabel. A empresa instalou-se no Porto em 1841.

A mesma relevância internacional motivou problemas como concorrência desleal e uma preocupação forte de Portugal com a região. Basta dizer que Lisboa, a capital portuguesa, foi alvo de um grande terremoto em 1755 e o Marquês de Pombal, enquanto reconstruia a cidade lusitana, preocupou-se em criar a Região Demarcada do Douro (RDD), a mais antiga com Denominação de Origem Controlada (DOC). A Região do Douro abrange 22 cidades e 43 mil hectares, com dezenas de milhares de produtores de uva.

A demarcação trouxe, com os séculos, um rígido controle de qualidade e de toda a cadeia de produção, há quase cem anos realizado por um órgão fiscalizador, o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP). É como uma ANP, órgão que no Brasil fiscaliza combustíveis, só para regular o mercado, os preços e a qualidade dos vinhos da região.
Com toda essa mistura de história e tradições, ganha ainda mais evidência o conjunto único de água em abundância, microclima e terras xistosas (e também graníticas) que compõem o terroir do Douro, com uvas características e “vinhas velhas”, plantações muito antigas com sabores profundos, com castas como a Tinta Francisca e a Touriga Fêmea. “A idade é uma coisa que faz parte da vida. Temos que estar bem”, observa Niepoort.

A geografia acidentada, com plantações de uvas em degraus, tem um dos custos de produção de vinho mais elevados do planeta. Por isso, no mundo inteiro, o único verdadeiro Vinho do Porto vem de lá, adocicado e com seu teor alcoólico elevado. O que não impede a fama crescente do chamado de vinho de mesa – o vinho branco, tinto ou rosé – ter sua produção premiada e reconhecida internacionalmente.

É por saber que a região tem sua história contada em gerações e séculos que o empresário João Carlos Paes Mendonça afirma: “Gostei muito do resultado. E acho que o futuro vai ser muito melhor”.

 

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