“O pernambucano não precisa sair daqui para comprar coisas de fora”, resume o comerciante turco Edip Cansiz, 32 anos, que participa pela décima vez da Fenearte. É justamente essa possibilidade que atrai muitas pessoas a conhecer um pouco de países de todos os continentes através do artesanato exposto nos estandes do Centro de Convenções de Pernambuco.
Além de vender, o peruano Fredy Medina, 55, também confecciona muitas das peças que traz à Fenearte desde a primeira edição do evento. “Sou de Ayacucho, a capital do artesanato no Peru. De onde eu venho cerca de 85% da população é formada de artesãos, que comercializam a nossa arte para todo o mundo”, diz. Para trazer um pouco de tudo à feira pernambucana, o peruano começa a confeccionar e encomendar as peças com até seis meses de antecedência.
A chegada ao Recife é sempre festejada, principalmente pelo reencontro com clientes de 17 anos. “É como uma família que se formou, todo mundo já se conhece.” Sabendo que a clientela estaria com o orçamento mais apertado este ano, por causa da crise, Fredy investiu em uma quantidade maior de peças pequenas, vendidas a partir R$ 4, e reduziu a produção de espelhos e ornamentos de parede mais caros, alguns de até R$ 2 mil.
No estande do indiano Mudasir Hussain, 30, participante há sete anos da feira, o maior sucesso são as batas, que saem a partir de R$ 30. Há também produtos mais trabalhados, como tapetes que chegam a R$ 4.200, feitos com lã da Caxemira, sua região natal. “Isso é arte, é uma coisa linda. Demora mais de quinze dias para ser feito, não tem como custar menos”, diz.
Segundo ele, os visitantes da Fenearte estão pechinchando mais nesta edição. O turco Edip confirma. “Para conseguir vender, só fazendo promoção”, conta ele, que oferece desde guardanapos de mesa (R$ 5) a conjunto de cama com seis peças (R$ 1.800). No caso da cartela de produtos mais sofisticados e caros, a exemplo dos tecidos bordados com pedrarias, Edip diz que os descontos são mais difíceis e acabam afetando o seu faturamento, diante dos custos para participação na feira.
Dólar alto, impostos e a burocracia da importação são outras dificuldades relatadas pelos estrangeiros. Em julho de 2014, por exemplo, a cotação da moeda norte-americana era de R$ 2,26, passando para R$ 3,42 no mesmo mês de 2015 e, agora, para R$ 3,29.
Como os produtos que vêm de fora são cotados em dólar, os preços apresentados ao público da Fenearte nos últimos anos precisaram sofrer reajuste ou foram mantidos às custas do lucro dos expositores. No investimento para garantir presença na feira, eles ainda contabilizam o aluguel dos estandes – R$ 5 mil um espaço de nove metros quadrados, transporte, alimentação, hospedagem e pagamento de ajudantes brasileiros para todos os dias de feira. “Temos que tirar na nossa margem de lucro na maioria das coisas, porque se aumentar o preço, não consigo vender”, lamenta o queniano Alex Ndaka, 38, há 11 anos na Fenearte.
Mesmo com os entraves, ele garante que a participação na Fenearte vale a pena e não deixa de bater o ponto no evento todos os anos. Alex conta que ganha a vida vendendo o artesanato do seu país, de roupas a peças de decoração, em feiras de artesanato da América Latina. Para facilitar as viagens, acabou se estabelecendo em Curitiba.
A cidade é o endereço de muitos dos expositores internacionais da Fenearte. “Já nos conhecemos e dividimos o valor para transportar as peças de lá até aqui”, diz o indonésio Chaerul Komara, 30, que importa peças da sua terra natal e também de outros países próximos, como a Austrália.
A arte aborígene faz sucesso entre os pernambucanos, que dão preferência às máscaras ornamentais de madeira, cujos preços podem chegar a R$ 150, além de bolsas de tecido estampado (R$ 40). “O pernambucano adora um desconto, vê uma placa dizendo que tem promoção e já vai em cima. Às vezes nem sabe o que é direito”, brinca. Para os mais econômicos, Chaerul não deixa de trazer pequenos ornamentos, que saem a partir de R$ 5.