Energia eólica salva abastecimento do Nordeste

Seca reduziu volume de água nos reservatórios das hidrelétricas
Adriana Guarda
Publicado em 15/01/2017 às 7:00
Seca reduziu volume de água nos reservatórios das hidrelétricas Foto: Heudes Regis/JC Imagem


Roupas leves, sombrinhas para fugir do sol e abanadores. Quem circula pelo Grande Recife sabe que as temperaturas aumentaram. Mesmo acostumados ao verão escaldante, o recifense percebe a mudança nos termômetros. Esse calorão fez o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) projetar um aumento de 9,4% no consumo de energia no Nordeste em janeiro, na comparação com igual mês de 2016. Para suportar a demanda será necessário recorrer à geração eólica. Não fosse a boa safra de ventos, seríamos submetidos a um racionamento ou sentiríamos nas contas de luz o preço da geração térmica.

 

“O crescimento da capacidade instalada de energia eólica, a partir de 2013, coincidiu com a persistência da seca no Nordeste e a redução do nível de água da Barragem de Sobradinho, a principal da região. O próprio governo tem dito que a fonte eólica está salvando a região em termos de produção de energia. A eólica chega a atender, na média, 30% da necessidade de energia do Nordeste e em alguns momentos chega a 50%”, calcula a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum. A boa safra de ventos ocorre entre junho e janeiro, exatamente o período de poucas chuvas para abastecer os reservatórios das hidrelétricas.

Atualmente são 424 parques eólicos em funcionamento no Brasil, com uma potência instalada de 10,6 gigawatts (GW). Isso equivale a uma usina de Belo Monte (PA). Do total de parques, 339 (80%) estão distribuídos no Nordeste. Pernambuco ocupa o sexto lugar no ranking nacional com 29 complexos em operação e outros oito em construção. A geração eólica já representa 7% da geração total de energia no Brasil e em 2035 a projeção é que participe com algo entre 20% e 25%.

“Graças a característica dos ventos (fortes, cortantes e sem rajadas), o Brasil tem uma produtividade eólica que equivale a quase o dobro da mundial. Isso faz com que os preços também sejam competitivos. Hoje o valor do MWh está em R$ 200, abaixo da hidrelétrica em cerca de R$ 20 e das demais fontes em R$ 50”, compara Elbia.

Embora o jovem setor venha se destacando na matriz, a crise econômica está impondo desafios iguais aos de outras atividades. Desde 2009, o ano passado foi a primeira vez que o governo federal não realizou leilões para contratar energia eólica e solar. A explicação do Ministério de Minas e Energia (MME) é de que o setor elétrico apostava num cenário baseado em anos anteriores, em que a economia cresceria a uma média anual de 4,5%. Mas o PIB ficou estável em 2014 e caiu nos dois anos seguintes, mergulhando numa recessão.

LEILÕES

Na última terça-feira, os governadores de Pernambuco (Paulo Câmara), do Ceará (Camilo Santana) e do Piauí (Wellington Dias) se reuniram com o ministro Fernando Coelho Filho e pediram a retomada dos leilões. Ouviram como resposta que o MME está revisando o modelo dos certames de renováveis e que a previsão é anunciar datas em março.

“Uma indústria nova precisa de sinais de investimento, de que haverá contratação a cada ano para que a máquina da indústria gire. Fomos competentes em desenvolver uma indústria num curto espaço de tempo, mas precisamos que ela continue. Os investimentos já chegam a R$ 60 bilhões, sendo R$ 20 bilhões só no ano passado. Isso sem falar na instalação de empresas nos Estados produtores, que já fazem com que o índice de nacionalização do setor seja de 80%”, destaca Elbia.

Doutor em eficiência energética e professor da DeVry|FBV, Methodio Varejão diz que o sistema incerto de chuvas no Nordeste aponta para um caminho sem volta na geração de energia renovável, sobretudo eólica e solar. “Pernambuco foi um dos primeiros Estados a realizar leilões de solar e já tem 218 microconsumidores com geração própria. Esse é o futuro”.

 

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