Pelo menos 89.953 famílias pernambucanas não tinham mais condições de pagar suas dívidas em junho. O número reflete a realidade de 17,8% dos lares do Estado, percentual superior, inclusive, ao registrado no mesmo mês de 2016, ano cujo cenário econômico é considerado pior que o atual. Os dados apurados na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Fecomércio-PE, apontam a realidade de uma parcela de consumidores que, apesar do risco do desemprego e das incertezas econômicas, continua a consumir sem planejamento.
A parcela dos consumidores que reconhecem a possibilidade do calote fazem parte de um grupo maior, um total de 342.975 de famílias endividadas, ou 68% da população pernambucana, que chega a comprometer entre 11% e 50% de sua renda com dívidas. “As pessoas que reconhecem que não podem pagar suas dívidas são aquelas que estão sem emprego, mas tiveram uma ascensão de renda na última década e agora não conseguem dar um passo para trás. Ou seja, não conseguem dar um freio no consumo”, analisa o economista responsável pelo estudo, Rafael Ramos.
Outro grupo preocupante de endividados é aquele que tem contas com mais de 90 dias de atraso. Eles representam 29,8% dos pernambucanos, percentual maior que os 27,3% registrados em maio, mas inferior aos 30,7% referentes a junho de 2016. O período acumula os resultados de três importantes períodos de consumo no Estado. Em maio, o dia das mães; e em junho; o dia dos namorados e o São João.
Os indicadores de endividamento em Pernambuco apresentam resultados piores em todos os quesitos em comparação às médias nacionais apuradas pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). No Brasil, são 56,4% das famílias endividadas, 24,3% as que têm contas em atraso e 9,6% as que não têm condições de pagar – quase metade do percentual de famílias pernambucanas. Como provável causa de um cenário local tão pior estão os indicadores de emprego e renda, nos quais Pernambuco aparece mais uma vez em situação pior que a brasileira.
Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) realizada pelo IBGE, a taxa de desocupação no Estado chegou a 17,1%, muito acima dos 13,7% da média nacional para o primeiro trimestre fixo deste ano (janeiro, fevereiro e março). O rendimento real do pernambucano também destoa: R$ 1.577, contra R$ 2.052 do Brasil.
Dentro desse contexto, o cartão de crédito aparece como principal responsável pelas dívidas para 76,9% dos brasileiros e para 94% das famílias pernambucanas. O juro do cartão está em 363,3% ao ano e, mesmo sendo o menor patamar em dois anos, permanece como uma das formas mais caras de crédito do País, atrás apenas do juro rotativo, que encerrou 2016 em 484,6% ao ano.