Se o custo é apontado como um dos grandes vilões para que a população mais carente tenha acesso à internet, os espaços vazios deixados pelas grandes empresas que comercializam o serviço tem sido ocupado por empresas de menor porte. As chamadas operadoras regionais. Atendendo 20% do mercado de banda larga fixa nacional, esse tipo de negócio tem conseguido acessar até mesmo a fibra óptica – atual modelo mais desenvolvido para o tráfego de dados –, ganhando corpo na periferia das grandes cidades e interior do País ao competir em pé de igualdade com a conexão ofertada pelas grandes corporações.
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De forma geral, o acesso à internet nos domicílios voltou a crescer no Brasil, totalizando 42,1 milhões de lares conectados em 2017 (61% das residências). Nas áreas urbanas, essa proporção é de 65%, o que corresponde a 38,8 milhões de domicílios conectados. “A demanda por internet tem aumentado de uma maneira absurda e pelo custo operacional e pouco retorno comercial, as grandes empresas que comercializam internet fixa no Brasil têm deixado de atender uma demanda expressiva da população”, diz o diretor Executivo da operadora regional Intexnet Telecom, Sérgio Lopes. Com a empresa no mercado há 10 anos, hoje ele já atende a uma rede de clientes que envolve 120 provedores locais, que replicam o link da internet em 30 cidades da Região Metropolitana do Recife e Zona da Mata para até 8 mil clientes, cada com preços que vão de R$ 55 a R$ 200 e velocidade de 10 mega a 100 mega.
“A Anatel já nos reconhece hoje como operadora regional, porque já estamos num porte que vendemos o link da nossa internet para replicação pelos provedores de bairro e esses revendem a internet para os consumidores finais, ou seja, a população, principalmente na periferia”, reforça Lopes. Segundo ele, antes da fibra óptica, o mercado de internet em Pernambuco havia sido fortemente impactado pela “venda casada” de internet, telefone fixo e TV por assinatura. “Quando a GVT (atualmente Vivo) chegou ao Estado, o mercado mudou de uma forma impressionante porque a empresa passou a oferecer três serviços por um único preço, até então mais atrativo para a classe média. Isso forçou a ida dos provedores de bairro para as periferias e culminou na proliferação deste tipo de empresa”, diz. Constituída a partir de vidro ou plástico, a fibra óptica, apesar de demandar ainda um custo alto para aquisição, tem uma taxa de manutenção menor. Para o diretor da Intexnet, a produção e a demanda cada vez maior do material mantém os preços acessíveis, diferente do que ocorria com a conexão via ADSL e cabo.
A chegada de um provedor local no bairro da Macaxeira, Zona Norte do Recife, foi o que possibilitou ao estudante e cabeleireiro Everton Cabral, 18 anos, ter internet fixa em casa a partir de 2015. “Com a internet, mudou tudo. Consigo ter uma facilidade muito grande para ver alguns conteúdos, pesquisar e divulgar meu trabalho. Uso muito as redes sociais para divulgação e acesso aos clientes”, afirma o jovem. Se contratasse o serviço através de uma grande operadora, Everton estima um gasto superior aos R$ 100. Pelo plano da operadora de bairro, ele arca com R$ 50.
Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Brasil registrou 29,1 milhões de contratos de banda larga ativos no País no primeiro mês de 2018. Os números indicam um aumento de 336,4 mil contratos (+1,17%) no mês de janeiro de 2018 em relação a dezembro do ano passado.
Nesse período, os provedores regionais de banda larga fixa, empresas não ligadas a grandes grupos nacionais ou às concessionárias de telecomunicações, tiveram aumento de 290,8 mil contratos em operação (6,80%). Assim, os provedores regionais registraram crescimento 3,5 vezes maior do que a soma de todos os grupos com evolução positiva (BT, TIM, Cabo, Algar Telecom e Claro). A maior redução percentual foi apresentada pela Sercomtel, com menos 9,7 mil contratos (-4,31%). Em números absolutos, a maior retração foi da Oi, com menos 22 mil contratos (-0,35%).
Nos 12 meses que antecedem abril, o Brasil registrou 2,2 milhões (+8,37%) de novos contratos de banda larga fixa, sendo que os prestadores independentes apresentaram crescimento de 1,6 milhão (+52,52%). Dessa forma, essas empresas tiveram um aumento 72,56% maior do que a soma dos demais grupos que também registraram crescimento (Sercomtel, Tim, Sky, Cabo, Algar Telecom, Claro e Vivo).
Com números extremamente positivos de crescimento, os provedores locais também enfrentam o desafio da regularização. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), embora ainda seja alto, o número de pessoas irregulares no setor tende a diminuir. “Já há uma série de exigências para o provedor regional se profissionalizar. Só aqui na associação temos mais de 9 mil empresas cadastradas e cada uma, em média, emprega de 20 a 30 pessoas”.