Negócios de impacto social transformam vidas em Pernambuco

Aliar lucro a propósito social é a missão de empreendedores que apostam em negócios voltados a transformar a realidade de pessoas e encontrar soluções para problemas reais
Bianca Bion
Publicado em 16/09/2018 às 18:17
Aliar lucro a propósito social é a missão de empreendedores que apostam em negócios voltados a transformar a realidade de pessoas e encontrar soluções para problemas reais Foto: Foto: Divulgação


Aliar lucro a propósito social é a missão de empreendedores que apostam em negócios voltados a transformar a realidade de pessoas e encontrar soluções para problemas reais. Entre outras características, esses empreendimentos buscam ser financeiramente sustentáveis enquanto atuam em rede através de parcerias para ampliar o impacto de sua atuação.

Um exemplo é a pernambucana Bio Fair Trade, que já ajudou a dar visibilidade ao trabalho de três mil artesãos em dez anos de existência, movimentando cerca de R$ 7 milhões nesse período. A empresa funciona como uma ponte entre o mercado nacional e internacional e os pequenos produtores de artesanato, procurando seguir os princípios do comércio justo, que prega igualdade de gênero, condições de trabalho seguras e saudáveis, preços justos, entre outros aspectos.

Tudo sem abrir mão da lucratividade. No caso da Bio Fair Trade, o modelo de negócios consiste na compra de objetos para revenda e no comissionamento quando promove a conexão entre os artesãos e outros compradores.

Nos últimos dois anos, a empresa dobrou o faturamento. No ano passado, teve receita de R$ 2,1 milhões. O sócio-fundador Márcio Waked acredita que a atuação em segmentos diferentes ajudou a atravessar a crise econômica sem maiores turbulências. A Bio Fair Trade trabalha tanto com exportação, quanto com a comercialização de produtos no mercado nacional, a exemplo de brindes corporativos, além de ter uma loja de venda direta com a marca Vila Mundo e prestar consultoria. “Trabalhamos com o artesão desde o momento inicial da capacitação. Entendemos a necessidade do mercado e passamos para o artesão. A partir daí, conseguimos conectá-lo com novos compradores”, comenta Márcio Waked.

Um dos artesãos beneficiados é Adício dos Santos. Ele já vendeu produtos como rodas gigantes, carrinhos e fogãozinho de lata na Holanda. Hoje, vende diretamente para a loja Vila Mundo. “Eu consigo até R$ 400. Todo mês procuro a Bio Fair Trade para fazer vendas. Esse dinheiro me ajuda a me sustentar”, afirma.

Outra empresa dedicada a criar oportunidades é a RobôLivre, que impacta 800 jovens no Recife e no município de Belo Jardim, no Agreste do Estado, com oficinas de robótica. A empresa também contribui com a implantação de laboratórios, formação de grupos de pesquisa em robótica e capacitação de profissionais das instituições parceiras, além de fornecer peças para montagens de robôs.

 

“Somos contratados por empresas privadas ou institutos, damos aulas semanais de robótica para jovens para promover transformação social. Trabalhamos com projetos práticos, de montagem de robôs. Em 2016, adotamos a forma de empresa privada. Em 2017, o número de projetos dobrou, hoje temos sete empresas parceiras. Temos perspectiva de aumentar a operação novamente, estamos conversando com potenciais clientes”, comenta o fundador da RobôLivre, Henrique Foresti.

Foi através das aulas no Instituto JCPM, realizadas pela RobôLivre, que o estudante Brian Thomaz, 21 anos, morador de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, se aprofundou no universo da tecnologia. “Nas aulas, nós fizemos carro de controle remoto, controlado pelo celular, um braço mecânico e uma casa com rampas automatizadas que eram ativadas através de raio infravermelho. Soube mais sobre tecnologia, programação. Depois da oficina, fiz um curso de informática e quero cursar universidade de engenharia mecatrônica ou programação”, comenta.

MERCADO

Para a analista do Sebrae Kátia Georgina trabalhar com o propósito de transformar vidas como a de Adício e Brian é um nicho de mercado que só tende a crescer. “Há uma conscientização das pessoas a esse respeito. É preciso empreender de modo diferente, olhar para problemas reais da sociedade que deixam lacunas e afetam principalmente as classes D e E”, comenta.

Integrante do núcleo gestor da Rede Nacional de Turismo Criativo (Recria), a empreendedora Larissa Almeida também atua para promover mudanças em seu meio social. O objetivo do movimento é reunir empreendedores que vendem seus produtos “encantadores”, como Larissa define, oriundos da economia criativa, através do turismo. Entre os exemplos, ela cita grupos culturais de maracatu e cozinheiros que fazem pratos típicos da região. “Hoje, nosso projeto está sendo acelerado no Instituto de Assessoria para Desenvolvimento Humano (IADH). Articulamos oportunidades para os empreendedores da rede. Um ponto chave é o desenvolvimento territorial. Acreditamos que isso pode ocorrer através da diversidade e de troca de conhecimentos”, diz Larissa Almeida. O movimento ainda está montando seu plano de negócios.

O coordenador do maracatu Nação Raízes de Pai Adão, Jorge Carneiro, é um dos integrantes do grupo de articuladores da rede, que sonha impulsionar o turismo na Bomba do Hemetério. “Temos três grupos culturais que estou ajudando a formatar para entrar no Recria e fazer parte do roteiro turístico na Bomba do Hemetério, que inclui apresentações de maracatu, dança africana e coco. O núcleo gestor do Recria trabalha para ampliar os horizontes da gente. Estamos programando apresentações para agências turísticas e donos de hotéis conhecerem os movimentos na Bomba do Hemetério”, relata.

TAGS
negócios criativos economia criativa social
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory