Atividade turística contribui para a preservação da Amazônia

Áreas de proteção dedicadas ao turismo registram índices quase nulos de queimadas, garantem associações da região amazônica
Mona Lisa Dourado
Publicado em 01/09/2019 às 12:41
Áreas de proteção dedicadas ao turismo registram índices quase nulos de queimadas, garantem associações da região amazônica Foto: Foto: Divulgação


Presidente do Amazonas Cluster de Turismo, que agrega 13 empreendimentos, Ricardo Pedroso perdeu as contas de quantos e-mails e telefonemas precisou responder nas últimas duas semanas para esclarecer clientes e potenciais hóspedes de que as áreas dedicadas ao turismo não foram atingidas pelos incêndios que já devastaram 20 mil hectares de vegetação na região amazônica, segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Enquanto a floresta arde, o trade se apressa em apagar o rastro de dúvidas sobre a extensão do fogo para que a imagem do Brasil como destino de ecoturismo não se dissolva no exterior. Dos 6,6 milhões de turistas internacionais que vieram ao País em 2018, pelo menos 200 mil estiveram nos nove Estados que englobam a Amazônia (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins), de acordo com o Anuário Estatístico do Turismo, do Ministério do Turismo. Boa parte desses visitantes (71,2% dos chineses; 65,7% dos japoneses; 34,7% dos canadenses; 30% dos americanos e 28,6% dos australianos) tem na natureza a principal motivação da viagem. 

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A reação rápida de hoteleiros e associações do setor visa justamente evitar a perda de turistas ocorridas em outros momentos de crise. “Saímos da Copa do Mundo com o fantasma no vírus da zika espantando os viajantes estrangeiros, que não têm a real ideia da dimensão continental do Brasil. Não precisávamos de mais essa paulada”, diz Pedroso. “Desta vez, tivemos até uma turista espanhola que já havia desembarcado em Manaus, mas estava com medo de chegar ao hotel na selva. Foi preciso convencê-la de que o passeio era seguro”, conta. Para o executivo, mais até do que as queimadas, foram as “declarações equivocadas de quem deveria gerir a crise” que agravaram o problema. A diretora executiva da Associação Brasileira de Turismo de Luxo (BLTA), Simone Scorsatto, concorda. “A reversão de uma imagem negativa pode minar um trabalho de muitos anos e inverter isso demora mais. Nosso maior produto é a floresta viva, de pé. Então, é preciso conscientização e outra postura em relação à gestão dos recursos naturais”, aponta.

Por meio de nota, o Ministério do Turismo afirma que “todas as providências possíveis estão sendo adotadas para conter o incêndio e diminuir os impactos para todos os setores da sociedade”. Já a Embratur, também via nota, diz não haver “informações oficiais de cancelamento de viagens ao Brasil”. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Manoel Linhares, corrobora que “não houve nenhum comunicado nem reclamação das ABIHs do Norte sobre perda de hóspedes”. Na visão da Superintendente de Desenvolvimento Sustentável e Amazônia da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Valcléia Solidade, o momento é de “transformar o limão em limonada” e aproveitar a visibilidade, mesmo que por um contexto catastrófico, para levar ainda mais pessoas à Amazônia e engrossar a corrente de “guardiões da floresta”. “Está aí a prova de que não é derrubando nem queimando a vegetação que a gente vai criar desenvolvimento na Amazônia. A saída é buscar alternativas econômicas que preservem a riqueza natural. O turismo é uma delas”, salienta. Valcléia cita como exemplo a transformação de territórios antes usados para extração de madeira ilegal em Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Entre as 16 monitoradas pela FAS, pelo menos quatro se dedicam às atividades turísticas (Uatumã, Rio Negro, Puranga Conquista e Mamirauá), com impacto direto e indireto na vida de mais de 300 famílias. Em 2018, 41 mil visitantes estiveram nessas áreas, propiciando um faturamento médio de R$ 7.937 por família, segundo a FAS. “Como são protegidos, esses territórios que trabalham com turismo têm índices quase nulos de queimadas, porque há conscientização e controle”, atesta Valcléia.

Educação ambiental também é a ferramenta da Fundação Ecológica Cristalino, que atua numa área de 11,39 mil hectares, incluindo três Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs), entre elas a do Cristalino Lodge, hospedagem de luxo no norte do Mato Grosso. “A taxa de turismo é revertida para ações de preservação e estudos científicos. O objetivo é conhecer a biodiversidade e apresentar à comunidade formas de proteção desse meio ambiente”, resume o coordenador geral de Projetos, Lucas Eduardo Araújo Silva.

A expansão da atividade turística na Amazônia ainda esbarra, no entanto, na logística de transporte dos visitantes e na dificuldade de comunicação. Nada que não se resolva com vontade política e investimento em infraestrutura e tecnologia.

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