"Código de conduta" no Facebook norteia brigas entre torcidas

Torcedores difundem em grupo na rede social regras para serem seguidas nos confrontos nas ruas
ALEXANDRE ARDITTI
Publicado em 04/10/2015 às 7:30
Torcedores difundem em grupo na rede social regras para serem seguidas nos confrontos nas ruas Foto: Reprodução/Facebook


Nunca deixar para trás um companheiro ferido durante um confronto entre organizadas. Brigar sempre “na mão”, sem apelar para armas de fogo e outros objetos que possam ser usados para machucar com mais gravidade o adversário. Não agredir o rival quando esse já estiver no chão. Princípios semelhantes aos que nortearam o “código de conduta” dos hooligans (os violentos e temidos torcedores ingleses) em seus primeiros passos e que são difundidos com enorme frequência no Torcidas Organizadas, grupo fechado na rede social Facebook.

A intenção, em tese, é diminuir os riscos dos enfrentamentos entre as facções resultar em mortes. Socos e chutes são exaltados como armas permitidas dentro dos estádios e em seus arredores. Para ratificar a importância de uma “briga limpa”, lembram nas postagens que as “mães dos guerreiros” estão em casa esperando por seus retornos e que o uso da covardia (tiros, pedradas e pauladas) pode fazê-las sofrer além do necessário. “Não faça a mãe do rival chorar. Um dia pode ser a sua”, diz uma imagem postada no grupo.

Mas, para o coordenador de pesquisas do mestrado da Universo do Rio de Janeiro, Maurício Murad, autor do livro Para entender a violência no futebol, os motivos para esse código de conduta são outros e bem menos nobres. “Eles querem evitar um óbito, simplesmente isso. Porque quando alguém morre em um confronto entre organizadas as forças de segurança agem com rigor para atender à pressão feita pela opinião pública. As uniformizadas passam a ser vigiadas mais de perto. É tudo o que eles não querem”, disse. “Esse manual para se comportar numa briga mostra como esses caras estão dispostos e preparados para a guerra”, completou.

Os próprios perfis oficiais de torcidas organizadas no Facebook estimulam esse “código de conduta” nos enfrentamentos. Uma das postagens mais surreais foi feita pela principal uniformizada do Fortaleza, que parabenizou e agradeceu a “trocação limpa” de seus integrantes contra membros de uma facção do Icasa antes e depois de uma partida entre os times pelo Campeonato Cearense, no primeiro semestre deste ano. O texto publicado ainda prevê outras brigas semelhantes no futuro. “... a TUF núcleo 82 vem agradecer a Fúria Icasiana pela trocação na limpeza. Que venham mais dessas por aí. O que aconteceu na pista, fica na pista...”.

Mas, na prática, a realidade é bem mais assustadora. A covardia a que se referem está presente no dia a dia das brigas entre organizadas. No próprio grupo no Facebook, não faltam vídeos e fotos que mostram vários membros de uma facção batendo em apenas um adversário ou de integrantes de uniformizadas empunhando pedras, pedaços de madeira e ferro, facas e até armas de fogo antes de entrar nos confrontos.

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