O ano de 2017 se encaminha para ser o pior da história do trio de ferro em Campeonatos Brasileiros. Desde a edição de 1988, quando foi estabelecido o rebaixamento na competição nacional, nunca três times de Pernambuco caíram de divisão no mesmo ano. Na Série B, Náutico e Santa Cruz, ambos com mais de 90% de risco de cair, precisam de milagres para escapar da Terceirona. Já na elite, o Sport, mesmo fora da zona de rebaixamento, despencou na tabela. Mas por que o futebol pernambucano chegou em situação tão melancólica no final do ano? O JC analisou questões técnicas, administrativas, políticas e financeiras de alvirrubros, rubro-negros e tricolores. E os temidos rebaixamentos podem ser reflexos de uma temporada desastrosa, dentro e fora de campo. Os textos são dos repórteres Diego Toscano e Matheus Cunha.
Sport, Náutico e Santa Cruz não fizeram cerimônia na hora de mudar. O elenco e os treinadores. Foram quase 100 jogadores contratados na atual temporada pelo trio de ferro da capital. Além de 12 técnicos. Números que ajudam a entender o vexame de tricolores, alvirrubros e rubro-negros na temporada, principalmente no Brasileirão.
O Náutico teve cinco treinadores (Dado Cavalcanti, Milton Cruz, Waldemar Lemos, Beto Campos e Roberto Fernandes) e 38 jogadores contratados só neste ano. No Santa Cruz foram quatro comandantes (Vinícius Eutrópio, Adriano Teixeira, Givanildo Oliveira e Marcelo Martelotte) e 37 novos atletas que desembarcaram no Arruda. O Sport teve um montante menor, 17 caras novas. Foram três técnicos (Daniel Paulista, Ney Franco, Vanderlei Luxemburgo). Lembrando que Luxa foi demitido semana passada e Daniel reassumiu o comando da equipe.
Mesmo com tantas trocas, vencer se tornou algo raro. O Sport ganhou uma partida das últimas 14 que disputou. O Santa consegue ser ainda pior: apenas um triunfo nos últimos 17 jogos realizados. O Náutico, por sua vez, que se recuperou na gestão Roberto Fernandes, saiu vitorioso em dois dos seus últimos nove compromissos. Convenhamos, sequências que não vão levar a lugar nenhum, a não ser ao rebaixamento.
Salários atrasados, trocas de comando na cúpula, investimentos que não deram o retorno esperado. Santa Cruz, Náutico e Sport, cada um com a sua realidade, acumularam problemas de gestão em 2017.
O alvirrubro viveu uma efervescência política que trouxe muita instabilidade ao clube, que teve três presidentes este ano. Ivan Brondi (renunciou), Gustavo Ventura (retornou para o Conselho Deliberativo) e Ivan Pinto da Rocha (atual). Vale a pena lembrar que a gestão começou, ano passado, com Marcos Freitas, que se afastou por problemas de saúde. No início do ano, o Timbu conviveu com salários atrasados, o que forçou a uma remodelação quase completa da equipe para a Série B.
Pelo lado tricolor, os problemas financeiros foram preponderantes. Após uma debandada dos atletas de 2016, também pela questão salarial, o clube teve que contratar um elenco inteiro. Mesmo reduzindo a folha, voltou a ter dificuldades para efetuar pagamentos, principalmente por causa de bloqueios judiciais das cotas de televisionamento. Hoje, deve três meses a boa parte do plantel.
Se no Leão os atrasos salariais não são problema, o alto investimento em algumas peças limitou as opções do elenco. Hoje, o time não tem reposições à altura para peças-chaves, como o meia Diego Souza e o centroavante André.
O primeiro semestre de Náutico, Sport e Santa Cruz já dava indícios de como seria o resto do ano. Nenhum título (a não ser o do Campeonato Pernambucano obtido pelo Leão) e eliminações precoces e decepções nas competições regionais e nacionais marcaram o início das temporadas. Os maus resultados resultaram em mudanças de comando e contratações excessivas de jogadores.
O caso do Timbu foi o mais emblemático. Caiu diante do Guarany de Sobral ainda na primeira fase da Copa do Brasil. No Nordestão, também não passou da etapa inicial. O grupo era considerado o da morte, com Santa Cruz, Uniclinic e Campinense. Ficou em terceiro, com dez pontos. O Pernambucano também foi horrível. Terminou em quarto, fora até mesmo da zona de classificação para a próxima Copa do Nordeste. Só se classificou graças a desistência do Sport.
Aliás, o Leão foi o que teve o primeiro semestre menos caótico. Foi campeão Estadual e ainda alcançou a final da competição regional, mas se frustrou ao perder para o Bahia. Na Copa do Brasil, chegou nas oitavas de final, caindo para o Botafogo.
A Cobra Coral também “patinou”. Chegou apenas em terceiro no Estadual e às semifinais da Copa do Nordeste. Foi eliminado justamente pelo arquirrival Sport. Entrou nas oitavas da Copa do Brasil e deu adeus logo de cara, quando foi eliminado pelo Atlético-PR.
A missão é muito complicada, mas a matemática ainda ajuda a sonhar. Hoje, usando os dados matemáticos do Chance de Gol, existe 91% de risco de Santa Cruz e Náutico estarem juntos na Série C do próximo ano. Já o Leão, 55% de probabilidade de voltar pra Segundona. Para evitar isso, é preciso pegar a calculadora e conseguir arrancadas ainda não conquistadas pelos três times no Campeonato Brasileiro.
Entre os três, o que tem mais chance de permanecer é o Sport. Com 35 pontos, mesma pontuação da Ponte Preta, que abre a zona de rebaixamento, o Leão, para chegar ao ponto de corte atual (43), precisaria fazer oito pontos nos últimos sete jogos. O problema está na sequência espinhosa, com confrontos diretos longe do Recife (Chapecoense, Atlético-GO e Fluminense) e jogos contra equipes do G-6 na Ilha (Botafogo e Corinthians). Palmeiras (fora) e Bahia (casa) fecham a sequência do Leão na Série A.
Já nos casos de Timbu e Cobra Coral, a margem de erro é quase zero. O Timbu tem mais seis jogos (Santa Cruz, Criciúma e Luverdense, fora, e Paysandu, Londrina e Vila Nova, em casa) e precisa vencer todos para chegar no ponte de corte (46) na 32ª rodada da Série B. Pro tricolor, mais 14 pontos dos 18 em disputa para atingir a meta. São três partidas em casa (Náutico, Paraná e Juventude) e três longe do Recife (Vila Nova, Boa Esporte e Paysandu).