VIOLÊNCIA

Mãe lembra ataque da Torcida Jovem, mas não desiste de acompanhar o Santa Cruz com o filho

Kênia Daiana estava no Pátio da Igreja da Santa Cruz junto com os filhos de 12 e 8 anos

Diego Borges
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Diego Borges
Publicado em 04/02/2020 às 19:47
Foto: Cortesia
Kênia Daiana estava no Pátio da Igreja da Santa Cruz junto com os filhos de 12 e 8 anos - FOTO: Foto: Cortesia
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São inúmeros os relatos sobre o ataque de cerca de 80 membros da Torcida Jovem do Sport contra torcedores do Santa Cruz, que comemoravam o aniversário de 106 do clube coral na noite da última segunda-feira, no bairro da Boa Vista, centro do Recife. Porém, apesar do medo, há aqueles que não se dobram com a violência sofrida e mantêm firme o amor pelo clube do coração.

A torcedora Kênia Daiana, de 38 anos, estava no Pátio da Igreja da Santa Cruz junto com os dois filhos, de 12 e 8 anos, além de uma outra criança de 11 anos, acompanhada de dois amigos da família. Ambos foram atacados durante a ação violenta.

"Meus filhos estavam jogando bola na hora. A Torcida Jovem entrou pelas costas da Polícia, que foi surpreendida. Foi quando vieram já gritando 'É a Jovem', fazendo aquela arruaça toda", relata Kênia, que não conseguiu correr como os demais torcedores por atravessar um período de recuperação de uma cirurgia.

"Derrubaram o meu filho mais novo, e até um rapaz que na hora ficou por cima dele protegendo, foi pisoteado. O meu filho mais velho e o amigo dele saíram correndo, desesperados. Eu também fiquei desesperada, querendo saber onde estavam as crianças. Como estou cirurgiada, não conseguia nem correr. Esse foi o meu desespero."

Segundo a torcedora, o filho mais velho sofreu ferimentos superficiais."Ele está com as costas arranhadas", enquanto o mais novo, ficou traumatizado psicologicamente. "O (filho) de oito anos, foi a primeira vez dele, nunca tinha ido a um movimento. Está com mais trauma, falando o tempo todo no assunto. Ele me disse: 'Mainha, a senhora não me disse que era tão violento. Se a senhora me dissesse, eu não tinha ido não, mãe.' Mas foi um negócio inesperado. Ninguém sabia. Foi um risco para mim, para eles e para todos que estavam ao redor", afirmou.

Kênia também afirma que no momento da agressão não havia torcedores da Torcida Organizada Inferno Coral, cuja imagem é vinculada ao Santa Cruz. "Só tinha pessoas de família. Idosos, mulheres, crianças e pais de família. Não tinha ninguém de torcida organizada do Santa Cruz na hora em que eles chegaram. Eram torcedores, vendo as crianças jogando."

De acordo com ela, a Polícia Militar de Pernambuco teve um papel importante para evitar um episódio ainda mais violento. "A gente permaneceu no local até umas nove (horas) da noite, porque depois chegou o carro de som e o reforço policial. A culpa não foi da Polícia. Eles não foram omissos em momento algum. Pelo contrário. Tentaram ajudar, querendo dispersar os baderneiros mas a quantidade em que eles chegaram foi muito grande, eles chegaram pelas costas", atesta.

AMOR INABALÁVEL

Apesar do susto, a torcedora não se deixa abalar. E diz ainda que o filho mais velho também segue o mesmo pensamento de perseverança nas arquibancadas para os próximos eventos do clube. "Ele é acostumado a estar comigo em jogo e nessas movimentações, sempre vai. Ele é sossegado com isso e mesmo estando com as costas machucadas, disse que vai e não tem problema", diz, antes de afirmar.

"Quando tiver (jogos), se eu estiver em condição física melhor e tiver outra oportunidade de ir, nós iremos novamente. Deixar de torcer pelo Santa Cruz? Jamais. Deixar de seguir o time do coração? Jamais. Não é por conta de baderneiros que vamos deixar de torcer. Torcedores somos nós, que vamos pela paz com as nossas famílias. Não é através de baderna, como eles fizeram não", aponta Kênia.

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