"Nós podemos" é o lema oficial de Kazan, cidade russa que conseguiu a façanha de transformar o estádio do clube de futebol local numa piscina gigante, para receber o Mundial de Natação, que começa no fim do mês.
"É a primeira vez na história que um estádio de futebol será utilizado para competições aquáticas importantes", comemora Ranko Tepavcevic, secretário geral da diretoria de projetos esportivo da capital do Tataristão, situada a 750 quilômetros ao leste de Moscou.
Desta forma, os goleiros e os atacantes que querem cavar faltas não serão os únicos a mergulhar na 'Kazan Arena'. Dos dias 24 a 9 de agosto, os melhores nadadores do planeta vão fazer a festa nas duas piscinas já instaladas no lugar do gramado do FC Rubin.
"Alguns gerentes de estádios se gabavam de receber shows da Madona, mas eu respondia: 'vocês não viram nada ainda'", comemora Vadims Andrejevs, vice-presidente da Arena, ao olhar com orgulho as piscinas, uma para as provas, e outra de aquecimento.
Com capacidade para 45 mil torcedores na sua configuração para o futebol, o estádio receberá um público de até 16 mil no Mundial de Natação.
Observadores do Rio
A bola só voltará a rolar em março, tempo suficiente para desmontar a estrutura de esportes aquáticos e fazer obras necessárias para sediar a Copa do Mundo de 2018.
Enquanto isso, o FC Rubin poderá jogar em um dos outros dois estádios da cidade, um de 28 mil lugares, e outro de 10 mil.
"Aqui, a piada do momento é que somos o clube mais rico da Rússia, já que temos três estádios", brinca Andrejevs.
A versatilidade das instalações esportivas de Kazan despertou a curiosidade dos organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, que terão como principal dor de cabeça garantir o legado das infraestruturas depois do evento.
"Durante o Mundial de Natação, haverá observadores do Rio. Pode ser que consigam novas ideias para transformar as instalações, como nós", explica Tepavcevic.
A ideia de transformar um campo de futebol numa piscina pode parecer louca, mas nada que abale a confiança de Vladimir Lenov ministro dos esportes da República do Tataristão.
"Isso é a Rússia, isso é Kazan, isso é o Tataristão. Não é à toa que o nosso lema é 'nos podemos'", se empolga o ministro, que tem apenas 37 anos.
Inspiração londrina
Kazan, que ganhou em 2009 o rótulo de "capital histórica da Rússia", lançou a construção da Arena ultra-moderna em maio de 2010.
Um iniciativa premiada em dezembro do mesmo ano com a vitória da Rússia na disputa para sediar a Copa do Mundo de futebol de 2018.
"Neste dia, eu chorei. Se há dez anos me falassem que a Rússia iria receber a Copa, eu teria respondido: 'isso é loucura'. Mas as mentalidades mudaram bastante nos últimos anos, e o esporte está na moda, ajuda as pessoas desafios. Na vida, é preciso ter sonhos", lembra Lenov.
Para montar a Kazan Arena, o governo local contou com a consultoria dos conceitores dos estádio grandes estádio de Londres, Wembley, palco dos jogos da seleção inglesa, e Emirates Stadium, que pertence ao Arsenal.
Os russos também buscaram inspiração em outras modalidades. "Nos espelhamos nas áreas comerciais do complexo do torneio de tênis de Wimbledon e no marketing da Fpormula 1. Queríamos um padrão cinco estrelas, como os melhores hotéis", resume Andrejevs.
No dia 24 de julho, a Fifa vai distruibuir os 64 jogos da próxima Copa do Mundo entre os 11 estádios que receberão a competição, na véspera do sorteio das eliminatórias, em São Peterburgo.
Kazan é candidata para receber uma partida de quartas de final. Lenov não parece estar abalado pelas investigações da justiça suíça sobre suspeitas de corrupção na atribuição das Copas de 2018 e 2022 (no Catar).
Prefere mergulhar de cabeça no Mundial de Natação, com a certeza que, depois de César Cielo e companhia, receberá os craques do futebol daqui a três anos. "Queremos esta Copa, e estamos preparados", resume o ministro.