Esperança renovada para Todo Duro

Ex-pugilista pernambucano quer aproveitar o retorno aos holofotes para acertar as suas contas com o passado
ALEXANDRE ARDITTI
Publicado em 23/08/2015 às 8:56
Ex-pugilista pernambucano quer aproveitar o retorno aos holofotes para acertar as suas contas com o passado Foto: JC Imagem


Raros são os momentos em que ele consegue se “despir” do personagem Todo Duro, o folclórico boxeador que apesar de cinquentão promete “estraçaiar” qualquer um que ouse cruzar seu caminho dentro do ringue. Mas quando isso acontece, emerge Luciano Torres, pernambucano carismático e de baixa escolaridade, pugilista que sentiu o doce sabor da fama e depois a amargura do ostracismo. Um homem de meia idade que dependeu nos últimos anos de doações para sobreviver e que quer agora aproveitar o retorno aos holofotes para acertar as suas contas com o passado.

Todo Duro, o personagem, ainda sonha com o sucesso lutando. Faz planos irreais de enfrentar nomes consagrados do boxe, como o baiano Acelino “Popó” Freitas e o filipino Manny Pacquiao. Garante que tem vitalidade para nocautear os dois. O mesmo “blá-blá-blá” que o notabilizou em seus áureos tempos no boxe (década de 1990) e que agora soa mais do que nunca em tom de piada. Luciano Torres, por sua vez, tem os pés no chão. Sabe bem que aquilo que vier é lucro para um ex-boxeador de 50 anos, aposentado dos ringues desde 2009.

A bem da verdade, Luciano não esperava mais nada do boxe. Tinha perdido as esperanças. Estava tocando a vida como dava na comunidade Lemos Torres, na Zona Norte do Recife, em uma casinha acanhada, ao lados das três filhas e de mais alguns familiares. Só que aí a vida resolveu dar uma segunda chance a ele. No último dia 11, Todo Duro saiu ovacionado do Clube Português após vencer seu arquirrival, o baiano Reginaldo “Holyfield” Andrade, outro veterano (49 anos), em uma merecida luta de despedida para ambos. Era o que precisava para recuperar o ânimo e os sonhos.

“A vida está me dando uma segunda chance. Para ser sincero, nem esperava mais. Acho que é merecido, por tudo o que fiz pelo boxe de Pernambuco. Acredito que agora estou mais preparado para saber fazer as escolhas certas. Gostaria de lutar ainda ou ensinar boxe. Também acho que poderia ser garoto-propaganda de alguma empresa. Não sou bonito, mas sou conhecido. Isso é importante nesse ramo. Né, não?”, indagou, ainda incerto sobre os próximos passos, mas mostrando disposição para encará-los.

HISTÓRIA

Todo Duro é, sem dúvida, o maior nome da história do boxe pernambucano. Entre 1990 e 2009, disputou 66 lutas, tendo conquistado 54 vitórias. Sua capacidade ia muito além dos jabs, diretos e uppercuts (alguns dos golpes) no ringue. Notabilizou-se mesmo pelo estilo folclórico fora das cordas. A língua afiada fez dele um verdadeiro “showman”. Sabia vender as lutas como poucos pugilistas brasileiros. Por isso, fez tanto sucesso.

A fama veio acompanhada de algum dinheiro. Mas, daquela época, sobraram apenas boas histórias. Luciano Torres se ressente por isso. Tudo o que ganhou perdeu. Culpa ex-empresários por terem torrado aquilo que conquistou distribuindo socos. Chama-os de “sanguessugas” e de outras coisas impublicáveis. Sempre se queixou, mas nunca conseguiu provar nada contra ninguém. Se é verdade ou não, só Deus sabe. Mas uma coisa é certa: nunca esteve preparado para administrar a sua carreira. Atualmente, são as filhas que cuidam de cada passo seu.

É por elas que Todo Duro volta agora à cena. Faz planos de comprar uma casa melhor do que a que vive desde que nasceu, de apenas três cômodos. A bolsa que ganhou pela luta contra Holyfield deu um “empurrão” para aproximá-lo da meta. Sonha também com uma escolinha de boxe gratuita que leve o seu nome. Quer ensinar as técnicas da “nobre arte” a meninos pobres. Para isso, cobra reconhecimento.

“Eu fiz muito por esse Estado. Quando falam de Pernambuco, lembram logo de Todo Duro. E aí ninguém me patrocina, ninguém me dá um apoio sequer. Simplesmente, me esqueceram. Espero que possam rever isso. Me dar uma oportunidade. Posso ainda fazer muito pelo boxe, por Pernambuco”, afirma Luciano Torres, o pugilista que quer se reinventar aos 50 anos.

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