Desde julho de 2015, os cariocas já começaram a conviver com atletas que estarão nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deste ano. Como parte da preparação para os Jogos, o Comitê Organizador do Rio 2016 planejou 44 eventos-teste pela cidade, em parceria com federações e confederações esportivas. A previsão é que esses eventos, apelidados de Aquece Rio, reúnam 7 mil atletas e 12 mil voluntários.
Até agora, já ocorreram 22 eventos. Só em janeiro passado, foram realizados o Torneio Internacional de Basquete, a Copa do Mundo de Halterofilismo Paralímpico e o Torneio Feminino de Luta Olímpica. Entre 19 e 24 de fevereiro ocorre a Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, no Centro Aquático Maria Lenk, no Parque Olímpico da Barra. Este mês, ainda será a vez do Torneio Internacional de Taekwondo, Torneio Internacional de Rugby em Cadeira de Rodas e a Copa Brasil de Marcha Atlética.
Estas competições fazem parte das obrigações do país com o Comitê Olímpico Internacional para a realização dos Jogos no Rio. Rodrigo Garcia, diretor de esportes do Comitê Organizador do Rio 2016, afirma que a proposta dos eventos-teste é identificar os erros e buscar soluções. “Tivemos algum problema em todos os eventos realizados, mas este é o objetivo”. A intenção do comitê é testar as instalações esportivas que serão usadas nos Jogos e as operações da organização, como logística, limpeza, segurança e sistema de resultados.
A primeira bateria de eventos ocorreu no ano passado, com competições ao ar livre. Triatlo, remo, hipismo, vela, canoagem, ciclismo, volêi, tênis, badminton, entre outros, já testaram parte das instalações que serão usadas para os Jogos. Até maio, outros 22 eventos serão realizados, principalmente nas arenas construídas para a Olimpíada. Segunda a organização dos Jogos, a presença de público para os eventos-testes depende de sua organização e instalação onde estão sendo realizados, podendo haver cobrança de ingressos.
Problemas na água
Um dos principais problemas registrados nos eventos-teste foram nos esportes disputados no mar. Problemas foram encontrados na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde ocorreram a canoagem, vela e remo.
Durante o Mundial Júnior de Remo, evento-teste ocorrido em agosto de 2015, uma polêmica em torno de atletas que haviam passado mal, supostamente por causa da qualidade da água na Lagoa Rodrigo de Freitas, levantou dúvidas sobre a viabilidade de realização de provas no local. Rodrigo Garcia rechaça a teoria e afirma que o problema com os atletas norte-americanos não foi causado pelas águas, e sim por uma infecção alimentar.
Edson Altino, presidente da Confederação Brasileira de Remo, confirma que a federação internacional atestou que o incidente com os atletas não foi causado pelas condições das águas da lagoa. "Mas um dos problemas detectados foi a necessidade de se garantir uma profundidade adequada para os barcos", afirma o dirigente, que aponta a necessidade de uma drenagem emergencial da lagoa para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Mas o grande desafio será garantir águas limpas na Baía de Guanabara, que recebe parte da rede de esgoto do Rio de Janeiro e foi alvo de críticas de atletas durante a Regata Internacional, ocorrida em agosto de 2015. Para Rodrigo Garcia, a maior preocupação é o lixo flutuante, que atrapalharia a realização das regatas, mas que os esforços da organização, em parceria com os governantes, é “garantir que a área de competição esteja apta para a vela". O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, garantiu que as provas serão realizadas no local e disse acreditar na qualidade das águas em que as competições serão disputadas.
Perigo no ciclismo
Um dos problemas encontrados nos eventos já realizados foi na pista de ciclismo BMX, durante o Desafio Internacional, ocorrido em outubro de 2015. Os atletas se recusaram a correr no percurso original por considerá-lo perigoso e a pista teve que ser adaptada de última hora. O ciclista brasileiro Renato Rezende, que ficou em terceiro lugar no evento, considerou a pista muito inovadora. "Os pilotos entenderam que havia alguns trechos que poderiam ser alterados para garantirem uma maior segurança, e no mesmo dia já foram feitas algumas alterações", lembra. Renato tem confiança que a pista estará em condições para os Jogos, afirmando que o seu traçado é "bastante inovador, assim como foi em Londres 2012".
Segundo Rodrigo Garcia, o teste do BMX foi uma grande oportunidade para avaliar a capacidade de resposta da organização. “Fomos pegos de surpresa, mas em menos de 24 horas conseguimos deixar a pista em condições para o evento”. Renato Rezende se mostra confiante nos Jogos. “Tenho certeza que a pista estará em excelentes condições, e que será um grande espetáculo”, afirma o ciclista.
Confira imagens de alguns dos eventos-teste já realizados no Rio de Janeiro (os vídeos são do canal oficial do Comitê Rio 2016 no YouTube):
Suspeitas no Hipismo
No hipismo, o temor é com a saúde dos animais. Um caso de mormo, doença letal para os equinos, detectado em um animal que esteve no Complexo Militar de Deodoro em 2014, trouxe preocupação para a realização do esporte. O Centro Olímpico de Hipismo está situado dentro da área militar de Deodoro. Rodrigo Garcia, diretor do Comitê Organizador dos Jogos, afirma que todo o cuidado está sendo tomado nas instalações. “Estamos promovendo um vazio sanitário, com isolamento da área e controle de acesso para que não ocorra nenhum incidente”, garante. O Concurso Completo Internacional de Equitação (Hipismo CCE), realizado em agosto, ocorreu sem maiores problemas, reforça Garcia. Em outubro de 2015, o Ministério da Agricultura definiu os critérios para entrada dos animas para os Jogos Olímpicos.
Pontos positivos
Para Rodrigo Garcia, a participação dos cariocas foi o grande destaque dos eventos-teste. “Houve uma participação massiva nos esportes, outdoors, que aconteceram nas ruas e nas praias do Rio”, aponta. Além da presença do público, Garcia reforça que a cidade está mais preparada para eventualidades e mais afinada nas suas relações com os governos e as federações internacionais. “Ainda temos muitos eventos para serem realizados até agosto”, afirmou.
Henrique Avancini, ciclista brasileiro do Mountain Bike, participou do evento-teste da modalidade em outubro. “O evento acabou surpreendendo positivamente pela qualidade do circuito entregue, que pode ser considerado superior ao dos Jogos de Londres”, afirma. O atleta destaca que a pista é panorâmica, que garante ao público a condição de acompanhar toda a competição. Um problema encontrado por Henrique foi o deslocamento até a área de competição, algo que o atleta acredita que deve ser resolvido com a finalização da Transolímpica, via expressa que ligará o Recreio dos Bandeirantes a Deodoro.
O brasileiro, atual campeão pan-americano e que já está classificado para os Jogos do Rio, acabou ficando em quinto lugar, está motivado para buscar uma medalha olímpica. “O circuito me empolgou muito, a pista favorece muito minhas características. Isso me dá uma confiança muito grande para os Jogos”.
Saiba como foi o evento-teste do ciclismo Mountain Bike, realizado em outubro do ano passado: