Estudo aponta que Jogos Olímpicos costumam dar prejuízo para sedes

Nos últimos 30 anos, a organização de Jogos Olímpicos deixou para as cidades sedes um legado econômico bem diferente das promessas feitas por seus organizadores
Estadão Conteúdo
Publicado em 18/07/2016 às 6:41
Nos últimos 30 anos, a organização de Jogos Olímpicos deixou para as cidades sedes um legado econômico bem diferente das promessas feitas por seus organizadores Foto: Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil


Orçamentos estourados, previsões de ganho furadas, déficit e corrupção. Nos últimos 30 anos, a organização de Jogos Olímpicos deixou para as cidades sedes um legado econômico bem diferente das promessas feitas por seus organizadores. Salvo no caso de Los Angeles, em 1984 e Barcelona, em 1992, todas as demais sedes constataram que os supostos benefícios anunciados jamais se concretizaram. 

Isso é o que revela um amplo e detalhado estudo publicado pelos economistas americanos, Robert A. Baade, da Lake Forest College de Illinois, e Victor Matheson, do College of the Holy Cross, de Worcester nos Estados Unidos. Publicado no Journal of Economic Perspectives da prestigiosa American Economic Association, o levantamento desmistifica os resultados econômicos do movimento olímpico e alerta para a falência que o modelo representa para quem realiza um evento. Segundo eles, é mais fácil um atleta ganhar a medalha de ouro na Olimpíada que o evento dar lucros para os anfitriões. 

"A esmagadora conclusão é de que, na maioria dos casos, a Olimpíada é uma proposta que gera perdas para a cidade-sede", alerta o estudo, apontando que os raros casos de benefícios são registrados "sob condições muito específicas e incomuns". 

Os economistas também chegam à constatação de que "o custo-benefício é pior para cidades em países em desenvolvimento que nos países do mundo industrializado" e que, da forma que hoje é conduzida, a "Olimpíada não é economicamente viável para a maioria das cidades".

Se existem vários motivos para essa constatação, o estudo indica que os principais fatores são os custos elevados para as instalações esportivas, os pagamentos que precisam ser feitos ao COI, uma administração de má qualidade, corrupção e as expectativas "irreais" de ganhos futuros. 

Se não bastasse, o documento mostra como "de forma consistente", todos os Jogos superam seus orçamentos originais. "Entre 1968 e 2012, todos os Jogos terminaram custando mais que originalmente estimado", alertou. Em média, essa inflação é de 150%. Mas, no caso de Montreal em 1976 e Sarajevo, sede dos Jogos de Inverno de 1984, o preço final foi dez vezes superior aos planos iniciais.

Mesmo em Londres, em 2012, uma manobra midiática tentou mostrar que o valor ficou abaixo do estimado. Mas abandonando previsões feitas durante a candidatura. Em 2005, quando a cidade obteve o direito de sediar o evento, o orçamento era de 2,4 bilhões de libras. Dois anos depois, uma nova previsão apontou para 9,3 bilhões de libras. Quando, em 2012, o preço total ficou em 8,7 bilhões, os organizadores argumentaram que o valor havia ficado abaixo do previsto.

O estudo não cita o Rio de Janeiro. Mas os dados oficiais do evento apontam que a estimativa original de R$ 5,6 bilhões para as instalações esportivas já ficou em R$ 7,5 bilhões. No que se refere ao custo total, incluindo as obras de infraestrutura, elas passaram de R$ 28,8 bilhões em 2009 para R$ 39 bilhões. 

CURTO PRAZO - Um dos argumentos usados para justificar gastos elevados, porém, é o retorno imediato que um evento pode trazer para uma cidade, inclusive para relançar a atividade econômica de uma região desgastada. Mas, baseado em dados econômicos das cidades que sediaram os Jogos, os especialistas apontam que "usar a Olimpíada para sair da recessão seria mais uma aposta de sorte que um planejamento prudente". 

Os exemplos são inúmeros. O governo de Utah, por exemplo, previa gerar 35 mil postos de trabalho para os Jogos de Inverno de 2002, em Salt Lake City. O resultado foi a criação de no máximo 7 mil empregos. "Considerando que o governo federal gastou US$ 342 milhões no evento e outros US$ 1,1 bilhão para infraestrutura, o custo de cada emprego gerado foi de cerca de US$ 300 mil", apontam os economistas.

Em 1996, em Atlanta, o levantamento aponta que não houve um impacto real em vendas e nem na ocupação de hotéis. Quanto à geração de postos de trabalho, o impacto foi de apenas 0,2% da taxa de empregos, com 29 mil vagas sendo criadas.

Para o comércio local, os dados também não apontam para vantagens reais. Segundo os números oficias das autoridades inglesas, Londres recebeu 6,1 milhões de estrangeiros e visitantes entre julho e agosto de 2012, no auge dos Jogos. O volume, porém, foi inferior ao mesmo período de 2011, quando a cidade recebeu 6,5 milhões de pessoas. "Teatros foram obrigados a fechar suas portas durante o evento", constataram os economistas. 

Em Pequim em 2008, o estudo constatou o mesmo fenômeno. A cidade registrou uma queda de 30% no que se refere aos visitantes internacionais em comparação a 2007 e uma ocupação dos hotéis 39% abaixo do ano anterior. 

Nas estações de esqui de Salt Lake City, a queda de usuários foi de 9,9% em 2002, em comparação ao inverno anterior. 

Em Sidney, em 2000, os estudos realizados antes dos Jogos indicaram ganhos para o comércio local de US$ 2,5 bilhões. Após o evento, o que se registrou foi uma contração de US$ 2,1 bilhões.

 

 

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