Sabe a marra de Mario Balotelli, atacante da seleção da Itália? Perde fácil para o estilo de Fernando Ferreira, o Balotelli do atletismo pernambucano. O craque das pistas já passou por maus bocados, mas hoje comemora a primeira conquista internacional no decatlo: o ouro no Pan-Americano Universitário, realizado no último mês de julho, em São Paulo. O resultado chega para fortalecer as ambições do pernambucano, que surge como promessa olímpica no cenário nacional. Com 19 anos, Fernando é líder do ranking brasileiro sub-20, sétimo colocado da lista adulta e se prepara para a disputa do Troféu Brasil, no próximo mês.
Até ganhar notoriedade no atletismo, no entanto, Balotelli, como ficou conhecido entre os amigos, sofreu para se encontrar na modalidade e sustentar a família. Natural de Pesqueira, no Agreste do Estado, o atleta apostou as fichas no futebol profissional. Atuou nas categorias de base de equipes locais e chegou a defender o time sub-17 do Tubarão, de Santa Catarina. Se firmar como jogador, porém, era um desafio e estava longe de garantir estabilidade a curto prazo. O pernambucano precisava de dinheiro para ajudar a mãe e os irmãos e tomou uma de cisão difícil. “Teve um momento que fui obrigado a escolher entre o futebol e o atletismo. Sou de uma família pobre e minha mãe estava desempregada. Na época, eu consegui uma bolsa e era esse dinheiro que sustentava minha casa. O futebol não estava pagando, então eu larguei”, comentou o atleta, que tem na figura de Usain Bolt uma inspiração no esporte.
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REVIRAVOLTAS
Investir em uma modalidade individual também mudou a perspectiva de Fernando. No atletismo, ele passou a depender única e exclusivamente de seu trabalho. “Eu dando o meu melhor sei que posso vencer. Depois que comecei a pensar dessa forma e treinar, conquistei muitas coisas que jamais conseguiria no futebol”, pontuou. O pensamento guiou a trajetória do pernambucano, que na época conquistou o ouro no Regional no lançamento do dardo e carimbou o passaporte para disputar os Jogos Escolares de Pernambuco.
Foi na competição estadual que Balotelli conheceu outros atletas e treinadores do Recife. Recebeu o convite para treinar na capital e fazer parte da equipe Atletismo Campeão. Esta foi segunda reviravolta na jornada do atleta. Com potencial para desenvolver habilidades em outras provas, ele aprendeu técnicas para passar barreiras e executar os saltos com vara e em altura. “Enfrentei dois momentos muito difíceis até aqui. O primeiro foi o começo de tudo, quando eu treinava com o professor André Cardoso em uma pista de vaquejada (em Pesqueira). O segundo foi quando eu vim para o Recife e não tinha onde morar. Persisti porque precisava me restabelecer para ajudar em casa”, observou.
Em 2016, Balotelli finalmente iniciou no decatlo e observou a carreira alcançar novos patamares. Os melhores anos de sua vida, ele garante, são 2017 e 2018. Os treinadores Abraão Nascimento, Fernando Brito e Felipe Moura dividem os trabalhos com o atleta e são responsáveis por fazê-lo acreditar em dias melhores. Apegado ao pensamento positivo e à dedicação nos treinos, os resultados finalmente apareceram e o sonhos tomaram maiores proporções. “Quero ser medalhista olímpico. Sei que é difícil, mas depois de tudo que já passei, eu encaro o que vier pela frente. Estou disposto a tudo”, disse o jovem atleta, que confessou que é guiado por uma frase que leu há muito tempo em um muro e jamais será esquecida. “São nas adversidades que evoluímos”. Ele assegura que sim.