Os Jogos Olímpicos Rio 2016 apresentam aos espectadores esportes nem tão conhecidos e suas regras não escritas de torcida. Com este cenário, os brasileiros optaram por agir como em um jogo de futebol.
Confusão no tênis, olas no boxe e na ginástica, batidas com os pés nas grades e muito barulho, inclusive no tiro esportivo e na hípica.
"É uma combinação de duas coisas", explicou à AFP Victor Melo, coordenador do Laboratório de História do Esporte da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"Em primeiro lugar, os brasileiros sempre são muito animados, é um momento de festa bastante apreciado. Em segundo, pode ser que eles não estejam muito familiarizados com o esporte que assistem", afirmou.
"Deve-se esperar dos torcedores um comportamento mais contido, ligados à dinâmica e à tradição da modalidade. Mas nunca que os brasileiros se comportem como europeus", considerou o professor Melo.
Vânia, de 31 anos, estava nesta sexta-feira em Deodoro para assistir sua primeira partida de basquete, acompanhada de sua filha e bem informada do que tinha que fazer: "Vibrar quando uma equipe ataca", disse à AFP.
Independente do esporte, seus espectadores habituais têm outros costumes, e os atletas percebem.
"É um pouco uma distração", admitiu o atirador chinês Pang Wei.
"Consegui me concentrar todo o tempo, mas no final o público estava um pouco mais louco que o normal", disse a ginasta guatemalteca, Ana Sofía Gómez, que se desequilibrou na trave.
"Estamos ajudando os brasileiros a diferenciarem qual é o momento correto para a paixão e até que nível pode ser expressada. Mas o melhor é ter algo de paixão do que nada", disse Mario Andrada, diretor de comunicação do comitê organizador dos Jogos.
"Os brasileiros são muito barulhentos, muito latinos", acrescentou, mas "as vaias fazem parte da cultura do futebol, que é muito unilateral: meu time ou o time adversário".
Os espectadores brasileiros vaiam as notas que não consideram suficientemente boas para suas ginastas. A grande surpresa da classificatória, a brasileira Rebeca Andrade, pediu aos torcedores que parassem de vaiar os juízes.
Para participar da festa olímpica, o torcedor brasileiro usa muito as camisas de Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama e outros times de futebol, ou da seleção.
O casal Philip, 25 anos, e Érica, 24, comprou ingressos para a partida de hóquei entre Espanha e Grã-Bretanha. O rapaz diz que escolheu a modalidade "por ser um esporte pouco conhecido no Brasil, e por viver a experiência olímpica".
Decidiram torcer pela Espanha. E do mesmo jeito "como quando vamos ver o Flamengo", acrescentou, vestido com o uniforme rubro-negro.
"Não teremos mais Olimpíadas no Rio para torcer, temos que aproveitar", acrescentou ela.
Na hora de transformar os Jogos em uma grande partida de futebol, os brasileiros não estão sozinhos: os argentinos parecem compartilhar esta visão.
O público brasileiro torce para qualquer um que enfrente atletas Argentina, e vice-versa, ao ponto da estrela argentina do basquete Manu Ginóbili ter afirmado: "Isto é muito do futebol, realmente não gosto".
Outros, já veem o lado bom. "Passar de estádios semi-vazios em outros Jogos a isso é espetacular", comentou Raúl Lozano, o argentino que treina a equipe de vôlei do Irã.
No tênis é comum a predominância do silêncio e o aplauso educado. Mas uma partida de Juan Martín Del Potro, argentino, contra o português João Sousa, terminou com brasileiros e argentinos brigando.
Mas quando o tenista argentino eliminou Novak Djokovic, o sérvio agradeceu ao público brasileiro por uma experiência em "um ambiente que vi poucas vezes na minha vida".
"Me senti como se estivesse no meu país, me senti como se fosse brasileiro", disse o número 1 do ranking mundial.
O americano DeAndre Jordan, da seleção de basquete, disse que "é um público incrível. Parece com o futebol, cantam e animam muito".
Às vezes insultam também. O brasileiro Marquinhos pediu perdão pelas ofensas ao jogador espanhol Pau Gasol, que era xingado a cada lance livre.