Givanildo Oliveira, o contador de histórias, volta ao Santa Cruz

O "Rei do Acesso" retornou ao tricolor onde já colecionou muitos causos
Leonardo Vasconcelos
Publicado em 03/07/2017 às 15:11
O "Rei do Acesso" retornou ao tricolor onde já colecionou muitos causos Foto: Leonardo Vasconcelos / Especial para o JC Imagem


O monarca está de volta. Conhecido como "Rei do Acesso" e famoso pelos causos, Givanildo Oliveira retornou ao Santa Cruz, para assumir o time pela sexta vez. Além de diversos títulos, o velho Giva coleciona muitas histórias. Tanto como jogador quanto como técnico. Ao longo dos seus 68 anos, o pernambucano vivenciou muitos episódios inusitados e curiosos no futebol. Em um bate-papo descontraído com o repórter do JC Leonardo Vasconcelos, em outubro do ano passado, quando treinava o Náutico, Giva abriu o baú das memórias e mostrou porque é conhecido como contador de histórias. Relembre!

NÃO PODE CHUTAR

“Eu tive uma história com o (Emerson) Leão que depois do que houve ficamos amigos. O que aconteceu? Leão tinha as coisas dele, como nós temos também. Sempre se falou que ele era turrão, mas eu não achava porque ele me ajudou muito na seleção brasileira. Mas teve um lance no jogo. O México tinha um meia e aquela era época de uns meias muito danados como Bráulio, Zico, Adílio. Meias muito bons que desequilibravam. E esse meia mexicano era muito driblador e eu era quem estava na marcação dele. Daí ele recebeu a bola na linha da grande área, quando dominou, que eu fui, ele deu um corte. Aí pensei, ele vai chutar. Daí fiz toda a força para tentar abafar, quando eu estiquei, ele cortou para o outro lado. Aí eu fiquei lá em pé, não caí, mas todo torto. Ele sentou o pau pro gol. Quando ele chutou, só fiz olhar para trás. Aí Leão já tava na marca do pênalti, fez um gesto pra mim e gritou: “Pow, não pode chutar não!”. Aí respondi: “Então sai do gol”. Ora, se não pode chutar, melhor sair do gol”.

RECLAMAR POR PRAZER

“Sport e Central, na Ilha do Retiro, pelo Pernambucano e esse jogo se arrastou de forma horrível. Os dois times não se encontravam, estava 0x0 e um cara atrás do banco de reservas me xingando de tudo o que você imaginar. Chamar de burro era até normal já, fora outras coisas. Aí nós fomos pro intervalo. Quando cheguei no vestiário a primeira coisa que eu disse foi: “Eu não vou pra casa e deixo vocês voltarem pro jogo sem treinador porque eu não posso fazer isso com a minha profissão”. Troquei dois jogadores porque o jogo estava mesmo horrível. Aí falei várias coisas pra eles e, enfim, voltamos pro segundo tempo. E o cara a mesma coisa me chamando de várias coisas. Quando foi com seis minutos, nós fizemos um gol, e o cara continuou a xingar. Eu tenho gravado até hoje os horários dos gols. Com doze minutos, fizemos o segundo gol. Com 16 minutos, nós estávamos ganhando de 3x0. Aí ele gritou no meu ouvido, bem junto de mim, ali atrás no banco: “Givanildo, filho da p..., eu vou embora, mas domingo eu estou aqui de novo!”. Quer dizer ele estava torcendo para o time jogar mal para poder me xingar. Como fizemos o terceiro gol, ele viu que não tinha mais o que falar e foi embora, mas avisando que no domingo seguinte voltava”

RESPOSTA SEM PERGUNTA

"Uma vez quando eu fui convocado para a seleção e nessa época ela fazia todo mês um amistoso. Fez contra a seleção da Rússia e outras. Eu sempre sendo convocado, mas não entrava nem dez minutos. Foi quando teve o torneio Bicentenário, nós viajamos, teve o primeiro jogo contra a Inglaterra, se eu não me engano, o segundo contra os Estados Unidos. Eu entrei faltando vinte minutos porque Falcão saiu machucado e eu fui muito bem em campo. Fomos pra Itália, teve um jogo e quando chegou no intervalo Falcão não aguentou. Mandarem me chamar, eu entrei no lugar dele quando o jogo estava 1x1 e nós acabamos ganhando por 4x1 e fomos campeões. Depois fomos para o México, estava muito frio, saí pra tomar café todo agasalhado e depois sentei em uma poltrona. Aí chegaram os repórteres Cléber Machado, Solange Bibas e Jânio Quadros. Encostaram e falaram: “E aí Paraíba?”. Eu já não gostei daí. “Você fica aí todo calado, não fala com ninguém”, reclamaram. Eu falo todo dia, porque tem uma rádio do Recife aqui, agora pra vocês eu nunca falei porque nunca me procuraram. Como é que eu ia falar? Vocês estão me procurando agora porque eu entrei na partida e a gente foi campeão. Pronto, agora pode me perguntar que eu falo”.

BRONCA EM QUALQUER POSIÇÃO

“Uma vez em um jogo contra o Icasa, naquele campão grande deles lá, um calor filha da mãe. Toda vez antes de começar o jogo, eu fico no banco de reservas, quando juiz apita aí eu vou para a área técnica que tenho direito. Aí começou o jogo e fui para a minha área. Aí, daqui a pouco, quando estou lá observando o time de braços cruzados, um torcedor aparece atrás do banco e começa: “Givanildo filho da p..., descruza os braços!”. Aí pensei: “Nossa Senhora, vai começar”. Deu um tempinho aí depois eu descruzei os braços e coloquei as mãos na cintura. “Agora piorou, tira a mão da cintura!”, esbravejou. Depois dele me esculhambar bastante então eu peguei e soltei os braços. “Agora que tu tá parecendo uma b...”. Aí não aguentei e voltei pro banco”.

VAIAS EM ENTREGA DE FAIXA

“Acho que foi em 1992, quando eu treinava o Sport. Nós fomos campeões no domingo e na quarta-feira arranjaram um time para a entrega de faixa, porque nessa época ainda tinha isso de festa e tal. Daí deram folga pro grupo e no dia nós fomos para o amistoso. O time da segunda divisão, claro, que queria ganhar. Nosso time começou a jogar mal, tomou um gol aí pronto, começaram as vaias. E tome vaia, isso você sendo campeão três dias antes. Então, quer dizer, é difícil o futebol. Claro, não me irritei porque ainda estava na alegria de ter sido campeão, mas é difícil de entender o torcedor. Ele não quer saber do jogo que passou, ele quer saber daquele jogo que está rolando e você tem que ganhar de novo. Essa faz parte das histórias que eu terminei rindo depois com a situação porque eu achei inacreditável um caso desse”

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