Se a história do homem é dividida entre antes e depois de Cristo, na Ilha do Retiro a contagem pode ter outro personagem: o goleiro Magrão. Ser chamado de salvador, herói e ter o status de quase santo aproximam o arqueiro do posto de unanimidade, pelo menos para a torcida do Sport.
Mas até mesmo as boas histórias possuem um fim e isso vale para o ídolo leonino, que pode encerrar a carreira em dezembro de 2018, quando seu contrato termina. Aos 40 anos, dos quais 13 foram abaixo das traves leoninas, Magrão constrói um legado que faz dele provavelmente o maior jogador do clube e representante de uma geração, tendo 21 de abril de 2005, data de sua chegada, como ponto de partida.
Essa eventual despedida, contudo, pode ocorrer de maneira que o torcedor mais se acostumou a ver Magrão: com recordes. Com nove taças, ele lidera a lista de jogadores mais vencedores no Sport ao lado de Leonardo. Ambos possuem nove conquistas. Só que Magrão pode ficar isolado nesse ranking caso levante mais um troféu na próxima temporada.
Os recordes, porém, não se limitam às taças. Com 673 jogos e 30 pênaltis defendidos, o atleta tem números que falam por si. Se o assunto é quem disputou mais partidas pela equipe, ele lidera a estatística desde 2015, quando superou Bria, que atuou entre 1949 e 1963.
Mas, não foi desde o início que ele agarrou a confiança do torcedor. Inicialmente trazido para a vaga do reserva Jéfferson, o arqueiro só se consolidou como titular na Série A de 2007, sob o comando do técnico Geninho. Vaga que pegou e não largou. Neste mesmo ano, outro feito começou a ser construído: os pênaltis defendidos.
O primeiro foi diante de outro goleiro, Rogério Ceni, pela 33ª rodada do Brasileirão daquele ano. De lá em diante, deslanchou, tornando-se referência neste quesito.
Neste ano, atingiu seu recorde pessoal nas batidas alternadas ao impedir cinco cobranças numa única temporada, tendo evitado três gols contra o Danubio-URU, pela Copa Sul-Americana, e dois diante do Joinville, pela Copa do Brasil. Por outro lado, como em um sólido casamento, a união entre jogador e clube se fez presente não só na alegria como também na tristeza.
Enquanto foi protagonista em momentos de glória como títulos, classificações e acessos, o goleiro experimentou os desgostos dos rebaixamentos de 2009 e 2012, sem contar as lutas contra a degola nas duas últimas temporadas. Além disso, uma lesão no ombro aliada ao bom desempenho do seu substituto Danilo Fernandes serviram como porta de entrada para o banco de reservas entre 2015 e meados de 2016, outro período de instabilidade para o atleta.
Após um 2017 atribulado, com 71 aparições com a camisa 1 do Sport, Magrão parte para um 2018 que deve ser menos desgastante, pelo menos no número de partidas. Com o Sport em apenas três competições oficiais, (Estadual, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil) o goleiro pode ampliar as marcas das quais já é dono. Caso aumente o número de conquistas, ocupará um espaço maior nos corações rubro-negros e pode fazer da promessa de uma estátua em sua homenagem um sonho cada vez mais próximo.