A realização de sonhos na Copa dos Refugiados e Imigrantes

O evento reuniu 80 atletas de 9 nacionalidades diferentes
Leonardo Vasconcelos
Publicado em 15/09/2019 às 15:16
O evento reuniu 80 atletas de 9 nacionalidades diferentes Foto: Leonardo Vasconcelos / Especial para o JC Imagem


O melhor refúgio é a bola. Quando correm atrás dela deixam para trás o que fizeram correr de seus países. Trazem somente o amor pelo futebol e o desejo de mudarem de vida por meio dele. Foi com este sonho que 80 atletas de 9 nacionalidades disputaram na manhã deste domingo (15), na Arena de Pernambuco, a etapa regional da Copa de Imigrantes e Refugiados.

Os “atletas” mais da vida e menos dos gramados vieram do Haiti, Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola, Senegal, Venezuela, Colômbia, Israel e Benin. Acostumados a se integrar, ele foram reunidos para representar quatro seleções: Angola, Cabo Verde, Senegal e Venezuela. Se enfrentaram em partidas de dois tempos de 15 minutos para saber quem seria o campeão. Porque vitoriosos todos já sabiam que eram só por estarem ali, relizando o sonho de estar em um estádio de Copa do Mundo. Não como meros espectadores. Mas jogadores.

Das arquibancadas para o gramado. Das várias mudanças que enfrentaram nas sofridas vidas esta foi uma das mais felizes. Traduzida no sorriso radiante de quem realizou já maduro um sonho de menino. De espanhol, passando por francês e até crioulo, com sotaque pernambucano. Se ouvia de tudo em campo. Como eles se entendiam? Jogando! A linguagem universal da bola rompeu as barreiras de qualquer dialeto. Quem diria que era preciso dizer algo pra expressar o indizível. Os sujeitos estavam lá cheios de predicados. Orações coordenadas pela bola. Sem ponto final.

O tema da Copa dos Refugiados e Imigrantes deste ano já é um chute forte e direto na barra da consciência das pessoas: “Reserve um minuto para ouvir uma pessoa que deixou o seu país”. O evento surgiu na cidade de São Paulo em 2014, como uma iniciativa da organização não governamental (ONG) África do Coração, com o apoio da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e teve pela primeira vez uma etapa no Nordeste.

“É um evento nacional que trouxemos com muito orgulho para Pernambuco. Nosso objetivo é promover a inclusão social por meio do esporte. Com evento chamamos a atenção da sociedade para a nossa causa que é muito falada no Brasil e no mundo hoje em dia”, afirmou o engenheiro civil haitiano e um dos organizadores locais da copa, Jean Baptiste.

A realização em Pernambuco contou com a iniciativa do Grupo de Embaixadores para o Desenvolvimento (GADE), que tem apoio do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Defensoria Pública da União (DPU), Sport, Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Escritório de Assistência à Cidadania Africana em Pernambuco (EACAPE) e do Governo do Estado, além da participação de mais de 40 voluntários. Entre eles, a cantora pernambucana e finalista do The Voice Brazil, Erica Natuza.

CAMPEÃO

O vencedor da etapa nordestina da Copa de Imigrantes e Refugiados foi a seleção de Cabo Verde que ganhou da Venezuela e de Angola, ambos os jogos por 2x0. Em novembro, ela vai disputar a fase final do torneio simplesmente no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Mas no final e afinal todos foram vencedores. Afinal, como foi dito no início da reportagem e provado dentro de campo: o melhor refúgio é a bola.

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