Situação de represas é pior que em 2013

Desenho das complicações que atingem em cheio as usinas movidas à água começa a exibir traços mais nítidos neste fim de ano
Giovanna Torreão
Publicado em 17/10/2014 às 10:06
Desenho das complicações que atingem em cheio as usinas movidas à água começa a exibir traços mais nítidos neste fim de ano Foto: Foto: ABr


Seja qual for o resultado das urnas, o próximo presidente da República será obrigado a lidar, a partir de 2015, com um cenário de geração hidrelétrica sensivelmente pior do que o enfrentado este ano. O desenho das complicações que atingem em cheio as usinas movidas à água começa a exibir traços mais nítidos neste fim de ano, antes do início do período chuvoso, em novembro. 

Nesta semana, os reservatórios da Região Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por 70% de toda a geração hidrelétrica nacional, operam com apenas 22% da capacidade total. Um ano atrás, nesta mesma semana de outubro, a região tinha 48% da capacidade à disposição, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Para complicar essa equação, a média de chuvas também caiu em relação ao ano passado. Em outubro de 2013, Sudeste e Centro-Oeste registravam um volume de chuvas 120% superior à média histórica. Esse índice está hoje na casa de 78%, e com tendência de queda. 

Racionamento. Mantida a média de chuvas registrada até agora, as chances de um racionamento de energia a partir de maio de 2015, quando tem início o próximo período de estiagem, oscilam entre 30% e 40%, segundo relatório da Tendências Consultoria. “Dentro desse cenário, onde até mesmo ainda não estou considerando como o fenômeno El Niño vai se desenvolver no Pacífico (o que pode afetar ainda mais as chuvas do Sudeste), a possibilidade de um racionamento de energia e água é real e presente”, avalia Tércio Ambrizzi, doutor em meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP). 

A aproximação de um ano mais crítico para a geração de energia pelas hidrelétricas é corroborada pelas análises do IAG. “As projeções do clima e das chuvas são de um verão (dezembro a abril) dentro da normalidade, o que, por si, já é um problema. Não vamos conseguir repor os reservatórios que estão com déficit de água e, portanto, podemos começar a estação seca no próximo outono com níveis abaixo do que iniciamos este ano”, diz Ambrizzi. 

Impossível

O ONS projetou que, para evitar problemas com o abastecimento de energia no próximo período seco, seria necessário chegar a abril de 2015 com ao menos 42% do nível dos reservatórios da Região Sudeste/Centro-Oeste. Especialistas ouvidos pela reportagem do Estado afirmam que essa meta de reposição é “quase impossível”, já que períodos de seca severa não costumam ser sucedidos por uma grande ocorrência de chuvas. 

“O cenário piorou. Entraremos em 2015 em uma posição de absoluto desconforto, dependendo essencialmente das chuvas do próximo verão”, diz Claudio Sales, do Instituto Acende Brasil. 

Sem reserva. A variação extrema verificada nos últimos 12 meses nos principais reservatórios do País dá uma ideia mais clara da situação. Na Bacia do Rio Paraná, duas usinas registram zero de acúmulo no nível de seus reservatórios. Há exatamente um ano, Ilha Solteira tinha 56% da capacidade total disponível e Três Irmãos, 61%.

Reservatórios fundamentais para o abastecimento energético do País, como o da usina de Furnas, na Bacia do Rio Grande, em Minas Gerais, contavam com 52,7% de seus recursos hídricos em outubro de 2013, índice que hoje está em 18,53%. 

“De fato, vem aí um ano mais difícil em todos os sentidos para o setor elétrico. Vínhamos alertando sobre isso há algum tempo. Era preciso que se adotasse medidas sobre o consumo, e essa decisão devia partir do governo, não das empresas. Hoje, estamos contando com a sorte, rezando para chover”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. 

Na avaliação dos especialistas, o ano de 2014 não registrou problemas com o abastecimento de energia por causa de uma combinação de fatores que jogaram o consumo para baixo: crescimento econômico pífio e explosão nos custos da energia, o que inibiu o apetite da indústria, que responde pela maior parcela de compra do insumo.

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