A CNV (Comissão Nacional da Verdade) identificou 6.591 militares presos, torturados ou processados pela ditadura militar (1964-1985). De acordo com o relatório apresentado na manhã desta quarta-feira (10), em Brasília, a Aeronáutica é a força que mais teve militares perseguidos pelo regime: 3.340. Seguida pela Marinha com 2.214; Exército com 800 e as polícias estaduais com 237.
O documento elaborado pelos integrantes da comissão destaca uma análise para a perseguição da ditadura aos militares, fato discutido em audiências públicas realizadas em diferentes Estados, como Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A comissão identificou a prática de torturas em unidades militares no Rio, em Natal, Salvador, Fortaleza, no Recife e em Porto Alegre. À comissão houve relatos de filhos, mulheres e parentes de militares, além de outros servidores que viram colegas sofrerem humilhações, agressões, insultos e até torturas contra aqueles que eram contra a ditadura.
Um dos depoimentos que constam do capítulo de perseguições a militares fala do marinheiro José Pontes de Tavares, vítima de tortura: "Foi espancado barbaramente por mais de uma hora, levado nu para uma cela cheia de fezes e coberta com pó de serra", informa o documento.
>> Acesse os links do relatório final da CNV:
Introdução do volume 3 do relatório da CNV
Volume 3 - Mortos e desaparecidos (1950-1969)
Volume 3 - Mortos e desaparecidos (1970-1971)
Volume 3 - Mortos e desaparecidos (1972-maio 1973)
Volume 3 - Mortos e desaparecidos (junho de 1973-abril de 1974)
Volume 3 - Mortos e desaparecidos (maio de 1974-outubro de 1985)
O documento mostra que não houve apenas torturas, mas mortes de militares que foram contra a ditadura. Um dos casos aconteceu em Porto Alegre. Na capital gaúcha, o tenente-coronel da Aeronáutica Alfeu Monteiro foi morto em 4 de abril com cinco tiros pelas costas. Os disparos foram feitos por militares, após Monteiro resistir à prisão.
No Rio, a Comissão da Verdade descobriu que três navios (Raul Soares, Princesa Leopoldina e Ary Parreira) fundeados na Baía de Guanabara se tornaram locais de detenção dos militares que, presos, permaneceram longos períodos isolados e mal alimentados.
De acordo com o relatório, a maior parte das perseguições começou após o golpe em 1964 e teve o seu auge até 1970. Alguns militares após serem presos e perseguidos acabaram expulsos. Mas, de acordo com relatos, o problema não acabava aí.
Militares e parentes relataram à comissão que os perseguidos se tornaram "mortos-vivos" do regime militar. Expulsos, esses militares eram constantemente vigiados e chamados a depor em inquéritos em quartéis do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Houve ainda depoimentos dando conta de que esses militares expulsos dos quartéis eram impedidos de seguir outra profissão.
A comissão descobriu ainda que as perseguições chegavam aos parentes dos militares. Não foram poucos, segundo o documento, as filhas, esposas e familiares de militares perseguidos pela ditadura. Houve parentes que foram presos, torturados e até mulheres violentadas nas cadeias do regime.