Em casa, enquanto troca os curativos da ferida na perna, o repórter-cinematográfico Luiz Carlos de Jesus, 37, da TV Bandeirantes, relembra como escapou da morte ao ser atacado por um cão da PM no confronto com professores em Curitiba, na quarta-feira (29).
"O médico que me atendeu na Assembleia disse: 'Se fosse três centímetros acima a mordida [do cão], teria acertado a veia femural e você não estaria falando comigo'", relembra Jesus. "'Esse percurso que você fez de lá [da rampa da Assembleia] até aqui [enfermaria da Casa] não daria tempo [para salvá-lo] e você já estaria morto'", conta.
Repórter-cinematográfico há dez anos, Jesus filmava o embate da polícia com manifestantes que protestavam, do lado de fora da Assembleia, contra a alteração do sistema previdenciário dos professores, quando foi atacado.
Ele estava próximo dos policiais e já havia notado que os cães estavam alvoroçados -'talvez por causa do barulho das bombas', diz.
Foi quando percebeu que um pastor alemão avançou em um deputado estadual que saíra do prédio. Por instinto profissional, aproximou-se para filmar a cena, quando sentiu o pitbull mordendo sua perna.
Colegas do profissional o carregaram até a enfermaria da Assembleia. Lá, devido ao grande número de feridos, precisou esperar uma ambulância para ser levado ao hospital.
São quatro furos profundos, segundo ele, que correspondem às presas do animal. As feridas não foram fechadas com pontos. É que, para evitar inflamação pelo contato do corpo com a saliva do cachorro, a orientação é que ele troque curativos periodicamente até que as feridas possam ser suturadas. Serão de três a cinco pontos no furo maior, e dois ou três pontos nos demais.
Não é a primeira vez que o profissional se fere em manifestações. Em um dos protestos do ano passado, levou spray de pimenta nos olhos e conta que um policial o atingiu com uma pancada no estômago.
Apesar de acostumado a acompanhar atos, ele se surpreendeu com o desfecho da última quarta-feira. "Era policial para tudo o que é lado, helicóptero dando rasante. Uma cena de guerra", afirma.