Ben Abraham, sobrevivente do holocausto, morre aos 90 anos em SP

Abraham passou duas intermináveis semanas pelo campo de concentração de Auschwitz durante a guerra até ser "comprado" por uma fábrica alemã de caminhões
Da Folhapress
Publicado em 10/10/2015 às 17:20
Abraham passou duas intermináveis semanas pelo campo de concentração de Auschwitz durante a guerra até ser "comprado" por uma fábrica alemã de caminhões Foto: Foto: Reprodução / Internet


A dois meses de completar 91 anos, o escritor e sobrevivente do holocausto Ben Abraham morreu nesta sexta-feira (9) em São Paulo.

Natural de Lodz, na Polônia, Abraham nasceu em 11 de dezembro de 1924 e foi batizado com o nome de Henry Nekrycz. Em setembro de 1939, os alemães chegaram à cidade de Lodz e prenderam todos os judeus em um gueto cercado. Aos 14 anos, ele acompanhou fuzilamentos em massa, enforcamentos coletivos e massacre de crianças.

Abraham passou duas intermináveis semanas pelo campo de concentração de Auschwitz durante a guerra até ser "comprado" por uma fábrica alemã de caminhões. Ali, perdeu o pai, que escapou dos caminhões transformados em câmaras de gás para os quais Abraham viu amigos serem levados, mas não sobreviveu à fraqueza causada pela fome. "Minha mãe dizia que ele teve sorte, pois ao menos teve um enterro judeu [no gueto]", lembra em uma de suas entrevistas à Folha.

Sua mãe não teve. Com Abraham, foi levada ao campo de concentração de Auschwitz, de quem se separou já na chegada. "Despedi-me pedindo que Deus nos ajudasse a sobreviver à guerra para nos reencontrarmos. Nunca mais a vi. Uma mulher que trabalhava junto com ela disse que foi enviada pelo [cientista nazista Joseph] Mengele para a morte."

"Vi chaminés do crematório funcionando dia e noite. Senti nas minhas narinas o cheiro da carne queimada e, naquela época, perambulando pelos campos, esfomeado e esfarrapado, jurei a mim mesmo que, caso sobrevivesse à guerra, contaria ao mundo [esta história] como alerta."

Abraham dizia não saber qual era a mais terrível lembrança: a morte do pai, a despedida da mãe, as imagens da fumaça preta dos corpos queimando em Auschwitz. "Talvez seja a de quando alemães chegaram a um hospital no gueto e, levando crianças pelas pernas, esmagaram suas cabeças contra o muro e jogaram seus corpos em caminhões."

Ele chegou ao Brasil em 1954 e recebeu a naturalização em 30 de janeiro de 1959. Quando presidiu a Associação dos Sobreviventes do Holocausto (Sherit Hapleitá) no Brasil, Ben Abraham defendeu que os jovens aprendessem nas escolas o que aconteceu durante o Holocausto.

"Hitler foi eleito nas eleições livres e democráticas. É preciso alertar em quem votar, para não sermos iludidos como aconteceu com o povo alemão", dizia ele. "É preciso aprender a história do passado para viver no presente e enfrentar o futuro com cabeça erguida", afirmava.

Abraham será enterrado no próximo domingo (11), às 11h, no Cemitério Israelita do Butantã.

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