Comum entre os jovens, a prática de ingerir várias doses de bebidas alcoólicas em um curto intervalo de tempo, também conhecida como binge drinking, aumenta a prevalência de comportamentos de risco, como dirigir após beber, ter um apagão ou fazer sexo sem se prevenir. Foi o que constatou uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que avaliou 1 222 pessoas de 18 a 24 anos em três momentos: antes da balada, após sair do local e um dia depois da festa.
Para fazer o levantamento, os pesquisadores visitaram 31 casas noturnas de São Paulo e, além de fazer perguntas, utilizaram um bafômetro para fazer a medição da quantidade de álcool na corrente sanguínea dos entrevistados.
"Pegamos a dosagem alcoólica e cruzamos o que foi feito na saída da balada. Uma pessoa que faz o binge, que toma cinco doses ou mais de bebida, fica intoxicada. Assim, a tomada de decisão fica prejudicada, ela não sabe quais coisas são arriscadas ou não. A pessoa que bebe e não faz o binge tem menos comportamentos de risco", explica Zila Sanchez, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp.
Os resultados foram divididos por sexo, pois, segundo a pesquisadora, homens e mulheres têm comportamentos diferentes quando estão alcoolizados. Entre os homens, 27,9% dos que praticaram o binge drinking beberam e dirigiram. O número foi de 20,4% entre as mulheres.
O uso de drogas ilícitas foi de 15,8% para os homens e 9,4% para as mulheres. O comportamento sexual de risco também foi expressivo: 11,4% entre os entrevistados do sexo masculino e 6,8%, do feminino.
"O que mais nos chamou atenção entre as coisas mais prevalentes é o blackout. Sabemos que é farmacologicamente possível ter bebido e, pela ação do álcool, a memória apagar, mas 20% das pessoas que saíram embriagadas das baladas não se lembram do que fizeram. Os jovens não se dão conta de quão grave é perder a memória."
Os dados foram coletados no segundo semestre de 2013 e analisados ao longo de 2014. Em agosto deste ano, o estudo foi publicado na revista científica Plos One.
Open bar
O comportamento de beber em grande quantidade em pouco tempo foi notado em 29,6% dos homens e em 22,1% das mulheres. Zila diz que as festas no modelo open bar, quando as pessoas não têm limites para a quantidade de bebida ingerida, acabam incentivando a prática.
"O que causa mais dano social é o álcool, que é visto como uma substância normal, mas é o que causa os maiores problemas e mortes. Em países desenvolvidos, há controle de venda de bebida para quem está embriagado. Aqui, trabalhamos com álcool como se fosse refrigerante."
Em fevereiro deste ano, um estudante de 23 anos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Bauru, no interior paulista, morreu após participar de uma competição para ver quem bebia mais. A disputa ocorreu em uma festa open bar em uma chácara e outras seis pessoas passaram mal no evento.
Cuidados
A psicóloga clínica Triana Portal diz que a bebida faz com que as pessoas fiquem mais propensas aos comportamentos de risco e que controlar os excessos, muitas vezes, acaba sendo mais difícil entre os jovens. "O jovem tem a questão da afirmação da personalidade que está associada à questão grupal. Ele quer fazer parte do grupo. Além disso, quer testar os próprios limites, ver quem bebe mais."
Triana recomenda a educação como forma de evitar situações perigosas por causa do consumo de bebidas alcoólicas. "Os jovens precisam se informar sobre os efeitos do álcool, sobre os riscos de acidentes e de contrair uma doença. E os pais não podem se descuidar. Não no sentido de castigar, mas de observar e de puxar para uma conversa ao notar que os filhos estão chegando bêbados em casa."