Discussão sobre cultura de estupro ganha destaque no País

Assunto veio à tona após estupro coletivo de uma jovem por mais de 30 homens no Rio de Janeiro
JC Online
Publicado em 27/05/2016 às 23:10
Assunto veio à tona após estupro coletivo de uma jovem por mais de 30 homens no Rio de Janeiro Foto: Foto: JC Imagem


Após repercussão do estupro coletivo de uma jovem de 16 anos na Zona Oeste do Rio de Janeiro a procura e as discussões sobre a cultura de estupro no país ganharam destaque em rodas de conversas com amigos e também nas redes sociais. E você? Sabe o que é a cultura de estupro? 

Na teoria, a cultura do estupro é um conjunto de crenças e ações que encorajam as agressões sexuais masculinas e apoiam, mesmo que de forma velada, a violência contra a mulher. Essa violência pode ser desde cantadas de rua (assédios verbais com conotações sexuais) até mesmo o fato de alguns pais separarem as tarefas das crianças baseadas no gênero. Como por exemplo, só as meninas fazerem serviços domésticos.

Essa cultura ainda pode se reproduzida por meio de imagens, linguagem, nas leis, em comerciais, filmes, novelas e em outros fenômenos cotidianos testemunhados por todos, todos os dias, que fazem que a violência contra mulher pareça algo normal. 

De acordo com a jornalista e educadora sexual, Julieta Jacob, do blog de Sexualidade Erosdita, parceiro do NE10, Julieta Jacob, essa cultura vem sendo perpetuada exatamente pelo fato de acher tudo uma “bobagem”: “É só uma música, é só um filme, é só uma piada”. 

Além disso, a cultura do estupro se aprende desde cedo. “Quando professores não desestimulam o comportamento violento de um menino aderindo a masculinidade, quando damos tarefas diferentes para meninos e meninas baseado apenas no gênero, quando damos essa educação sexista, estamos contribuindo para a cultura do estupro”, disse.

Julieta vai além! Segunda ela, quando falta a criança um modelo igualitário entre os gêneros em casa, as crianças reproduzem a mesma educação na vida adulta. 

A sexóloga ainda pontua que músicas que fazem apologia a objetificação da mulher acaba por nos fazerem transmitir a cultura do estupro sem ao menos perceber. “São atitudes indiretas, que tem relação direta com a cultura de estupro. Apesar de não deliberadamente, acabamos por reproduzir essas ações, fazendo parte desse coro apenas por não questionar e achar que aquela música é 'só uma música'”.

“Por exemplo, o termo novinha, que cita uma criança do sexo feminino. Quando não nos impressionamos com o termo, estamos entrando nessa moenda. Quando vemos duas mulheres assassinadas  por viajavam 'sozinhas' e não nos impressionamos, quando questionamos com que roupa ela tava, quando relativizamos a que horas ela tava na rua, quando tentamos justificar uma situação que é injustificável, enquanto a gente insistir nessa condição estaremos contribuindo para a perpetuação dessa cultura”. 

Para a jornalista o “consentimento é básico” para romper com essa ideia. Segundo Julieta, desconstruir todo “o antes” é o caminho para combater o “ato do estupro” em si. “Temos que combater as piadinha, por mais simples que pareçam. Temos que, antes de tolher a menina, de cercear a liberdade dela, ensinar o menino a respeitar” disse. 

Outro ponto que sexóloga caracteriza é a importância do debate ideológico de gênero nas escolas. Segundo Julieta, quando inserimos que essas abordagens são uma construção social e que certos comportamentos naturalizados pra homens e mulheres como naturais não são biológicos e exatamente uma expectativa social, quebramos com o estigma da cultura do estupro.  

“Cientificamente não existe essa premissa. O gênero masculino tem essa licença, liberdade, enquanto à mulher resta se esconder, fica dentro de casa, ter um comportamento pudico. Lógica que se quebra quando há essa discussão, esse questionamento, ensinamento as crianças. Quando ensinamos as crianças podem ser tudo que quiserem” finaliza.    

Devido a repercussão do assunto, vários usuários das redes sociais, bem como canais do Youtube, se manifestaram com o propósito de explicar o significado de "cultura de estupro". Esse foi o caso do canal "Cadê a Chave". Em vídeo bastante didático, o casal Nil Moretto e Leon Martins, que normalmente produzem vídeos sobre a rotina de casados, viram a necessidade de falar sobre o assunto. Confira o vídeo: 

 

DISQUE 180 - Para denunciar casos de violência sexual, as vítimas devem ligar 180. O serviço funciona diariamente, 24h por dia, inclusive nos finais de semana e feriados. A identidade do denunciante é mantida em absoluto sigilo. A Central de Atendimento à Mulher funciona como disque-denúncia da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). O Ligue 180 trabalha de forma conjunta com a rede de atendimento do Brasil, formada por serviços municipais e estaduais e também serve para receber instruções. 

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