A partir de janeiro, durante as chuvas de verão, parte das ruínas do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, será alagada. Uma porção de território do vilarejo será coberta pela lama, em uma ação emergencial da mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billinton, que está construindo um dique entre os destroços da cidade e o Rio Gualaxo do Norte, que deságua no Rio do Carmo, um dos formadores do Doce.
Um ano após a tragédia que deixou 18 mortos e uma pessoa desaparecida, a lama continua a vazar para o rio.
A mineradora afirma que o alagamento vai preservar a maior parte das ruínas. "O projeto de engenharia do dique foi pensado para evitar o alagamento do distrito. A igreja e o cemitério não serão afetados", diz o coordenador das obras da empresa na cidade, Eduardo Moreira. "Apenas uma parte, que já demarcamos, será alagada."
Mas uma porção do terreno onde havia casas em Bento Rodrigues e parte de um muro histórico da cidade, construído em pedra por escravos no século 19, serão encobertas pela água.
A função dos diques é barrar a lama acumulada na região. A ideia é que filtrem a água, que seguiria com menos lama rio abaixo. "O projeto é que o dique S4 funcione por um prazo de cinco anos", afirma Moreira. Depois, a obra seria retirada.
Moradores atingidos pela tragédia estão contrariados com a nova obra. "Eles vão encobrir a cena do crime", afirma a auxiliar odontológica Mônica Santos, de 31 anos. De moradora de Bento Rodrigues, ela virou ativista: milita contra a construção do dique, liberado, de forma emergencial, pelo governador Eduardo Pimentel (PT) antes de as licenças ambientais serem emitidas.
O argumento da Samarco é que 80% da lama que vazou da Barragem de Fundão, rompida em 5 de novembro de 2015, ainda está no trecho que vai dos resquícios da barragem até o encontro com o Rio Gualaxo. E algo precisa ser feito para que as chuvas de verão não espalhem ainda mais o lamaçal. "Não existe isso de desmontar o dique. Se estão fazendo, vai ficar lá", rebate a moradora.
Os diques são apenas parte das obras em execução na região. Ao todo, são 12 trabalhos na área. As barreiras das barragens remanescentes estão sendo reforçadas, e o vale que um dia foi a planície de rejeitos de Fundão também está recebendo quatro diques.
Outra obra é a de reconstrução dos três vilarejos destruídos pela lama - além de Bento, Paracatu de Baixo, também em Mariana, e Gesteira, em Barra Longa.
A promessa é que as obras estejam prontas em 2019. Em Bento Rodrigues, o novo terreno está comprado. Nos demais, as áreas estão em negociação.
O Estado viu um vídeo dos planos para o novo Bento, que ainda não foi apresentado para os moradores. "O projeto está em desenvolvimento. Será construído em parceria com os moradores", diz Álvaro Pereira, coordenador de projetos da Fundação Renova, entidade criada pela Samarco para tratar do tema.
O vídeo começa com o fogão a lenha dentro de uma casa. Ao som de viola caipira e de galos cantando, a imagem vai se afastando para apresentar a nova vila. As ruas largas, com três faixas, e as árvores lembram um subúrbio americano. A condição para assistir a animação era que não fossem captadas imagens.
O novo Bento nas pranchetas terá três igrejas. Elas estão em ruas diagonais, que se encontram em um cruzeiro - também comum nas cidades do interior mineiro. "Foi um pedido deles que as ruas se encontrassem em um cruzeiro", diz Pereira. Terá também uma rua central, onde está prevista a área comercial.
A expectativa é de que, decidido o desenho do vilarejo com os moradores, a Fundação passe a definir o projeto de cada casa. A data exata de início das obras, no entanto, ainda não está definida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo