Em meio à tormenta após a sua decisão de fechar as fronteiras aos cidadãos de sete países muçulmanos, Donald Trump defendeu nesta segunda-feira (30) uma iniciativa denunciada por muitos chefes de Estados e também por parte do mundo dos negócios, com Goldman Sachs à frente.
Em uma longa rajada de tuítes matinais, o presidente republicano questionou, tudo ao mesmo tempo, uma falha informática na companhia aérea Delta, as manifestações ou ainda as reações falsamente exageradas, segundo ele, de membros do Congresso.
"Tudo está indo bem com muito poucos problemas", disse ele, contra todas as evidências, citando o secretário de Segurança Interna, John Kelly.
Acusado de ter lançado esta iniciativa de forma precipitada, defendeu sua abordagem: "Se a proibição fosse anunciada uma semana antes, os 'maus' teriam entrado em nosso país".
Aparentemente ansioso para atrair a atenção da mídia sobre um assunto mais consensual dentro do seu próprio campo, o homem de negócios septuagenário decidiu acelerar o anúncio de seu candidato para ocupar o nono assento de magistrado no Supremo Tribunal Federal. O anúncio será feito na terça-feira em vez de quinta-feira.
Em todo o mundo, multiplicam-se os testemunhos de cidadãos dos países afetados pelas restrições denunciando, entre a depressão, raiva e descrença, as medidas abruptamente implementadas pela nova administração.
Eltirmizy Mohamed, médico sudanês de 34 anos, que passou três anos de formação em Atlanta (Georgia), deveria retornar a este estado da região sul do país para se estabelecer. O decreto de Trump acabou com seus planos.
"Eu tratei muitos desabrigados e americanos pobres durante os três anos que passei nos Estados Unidos", diz. "Planejava trabalhar em áreas rurais da Geórgia onde há poucos médicos e as necessidades são enormes. Mas me encontro preso em Cartum", lamentou.
E nos quatro cantos do planeta, a onda de indignação suscitada pela iniciativa não parece se acalmar, muito pelo contrário.
Vários diplomatas americanos protestaram oficialmente contra o decreto. Neste sentido, um número indeterminado de funcionários utilizaram um "canal" oficial chamado de "dissidente" para contestar a ordem do presidente, segundo o porta-voz da diplomacia americana, Mark Toner.
Erguendo a voz, a chanceler alemã Angela Merkel disse que a luta contra o terrorismo não justifica de forma alguma "generalizar a suspeita contra pessoas com base em sua crença, na ocorrência aqui de pessoas de fé muçulmana".
No Reino Unido, o governo estava sob pressão para cancelar a visita de Estado de Trump prevista para este ano: mais de 1,2 milhão de britânicos assinaram uma petição nesse sentido.
O decreto assinado nesta sexta-feira por Donald Trump proíbe a entrada a todos os refugiados, independentemente da sua origem, por 120 dias (e indefinidamente para os refugiados sírios). Também proíbe por 90 dias para os cidadãos de sete países de maioria muçulmana considerados berços terroristas por Washington: Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.
Sua aplicação confusa, que resultou em cenas de pânico nos aeroportos americanos e estrangeiros, com pessoas bloqueadas ou expulsas, provocou no início desta semana uma série de explicações entre vários países e Washington.
Nesse contexto, o governo aliviou a situação para aqueles com visto de residência permanente, mas também aos cidadãos dos sete países afetados com dupla nacionalidade.
Nos Estados Unidos, a mobilização, do mundo político aos negócios, também não mostrava sinais de pacificação.
O Goldman Sachs, um dos mais poderosos bancos de investimento do mundo, e do qual ex-líderes foram nomeados para posições influentes dentro da administração Trump, criticou o decreto presidencial.
"Esta não é uma política que apoiamos", criticou o CEO Lloyd Blankfein em uma mensagem de áudio interna que a AFP obteve uma cópia.
No áudio ele reconhece ainda que, se o decreto for aplicável de forma integral, havia o risco de "perturbação" para o grupo e alguns de seus funcionários e suas famílias.
No domingo, o novo inquilino da Casa Branca já havia tentado, sem sucesso, diminuir a pressão. "Para ser claro, esta não é uma proibição contra os muçulmanos, como os meios de comunicação relatam de forma falsa", disse em um comunicado.
Após o Irã, que decidiu aplicar uma medida de reciprocidade, os deputados iraquianos pediram ao governo para fazer o mesmo se Washington não reverter sua decisão.
Após a intervenção no sábado à noite de uma juíza federal do Brooklyn, várias pessoas detidas em sua chegada nos Estados Unidos, apesar de vistos válidos, foram autorizadas a entrar no território.
Mas a constitucionalidade do decreto não foi decidida e ele continua em vigor.