Detenções, apreensão de drogas e polêmica após operação militar no Rio

Defensoria Pública do Rio considerou o "fichamento" de moradores de favelas como ''grave violação dos direitos à intimidade e a liberdade de locomoção''
AFP
Publicado em 23/02/2018 às 22:49
Defensoria Pública do Rio considerou o "fichamento" de moradores de favelas como ''grave violação dos direitos à intimidade e a liberdade de locomoção'' Foto: Foto: CARL DE SOUZA / AFP


Uma operação de 3.200 militares e um número indeterminado de policiais na violenta Zona Oeste do Rio de Janeiro permitiu nesta sexta-feira (23) deter o suposto assassino de um sargento e apreender "uma grande quantidade de drogas".

A operação nas comunidades de Vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia foi realizada uma semana depois de  o presidente Michel Temer decretar a intervenção na segurança do Rio de Janeiro, confiando aos militares a luta contra o crime organizado no estado.

Contudo, as ações desta sexta-feira fazem parte da operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que desde julho do ano passado enviou 8.500 militares ao estado para apoiar as forças policiais.

Surgiu uma nova polêmica em torno à intervenção, depois que a Defensoria Pública do Rio denunciou que os militares estavam fotografando moradores das comunidades para verificar se tinham antecedentes.

A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Vila Kennedy informou que à tarde foi preso um suspeito da morte do sargento do Exército Bruno Albuquerque Cazuca, baleado na terça-feira passada, aparentemente ao resistir a um assalto.

A Secretaria de Segurança do Rio (Seseg) indicou que ao longo do dia foram detidas outras 27 pessoas e apreendidas "duas pistolas, carregadores de armas, munições, 12 carros, 13 motos, oito radiotransmissores e grande quantidade de drogas".

Em uma rua na Vila Aliança, sobre a mesa de um posto da Polícia Militar, vários agentes contabilizavam de manhã o material apreendido: carregadores, maconha, cocaína e outras drogas, e duas bananas de dinamite, constatou a AFP. 

Nova polêmica

A intervenção militar foi recebida pela população com a esperança de pôr fim à escalada de violência que assola o estado do Rio desde o fim dos Jogos Olímpicos de 2016, mas reaviva o fantasma da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que os militares poderiam proceder, na procura de criminosos, a operações de busca e apreensão por zona, mas teve que moderar seus propósitos após as críticas procedentes de meios judiciais e de defensores dos direitos humanos.

Uma nova polêmica ocorreu nesta sexta-feira (23) devido ao "fichamento" de moradores.

A lei "estabelece que nenhum cidadão seja submetido à identificação criminal se estiver portando a devida documentação civil. Trata-se, portanto, de grave violação dos direitos à intimidade e a liberdade de locomoção", apontou a Defensoria Pública do Rio em um comunicado.

Temer: "Não serei candidato"

Temer assegurou que o decreto não tem intenções eleitorais, a menos de oito meses das eleições presidenciais e legislativas. "Não serei candidato", reiterou.

Seus adversários o acusam de ter desviado o foco da atenção pública para temas de segurança, diante da impossibilidade de fazer votar a reforma da previdência que, até a semana passada, era a principal bandeira de seu governo.

O dispositivo ficará completo com a criação, na semana que vem, de um Ministério Extraordinário de Segurança Pública.

Segundo uma pesquisa solicitada pela Presidência, a intervenção do Rio tem mais de 83% de aprovação na população carioca, um percentual que contrasta com os escassos 5% de popularidade do presidente, que enfrenta várias investigações por corrupção.

A intervenção "é bem-vinda, mas não serve de nada se não vier com medidas sociais: emprego, saúde, educação, transporte, dignidade para o povo", declarou à AFP Jean-Philippe, morador da Vila Kennedy que trabalha como porteiro.

Vários moradores entrevistados pela AFP consideraram que a intervenção militar poderá servir para frear a corrupção na Polícia. "Os policiais fazem muitos negócios" nas comunidades, comentou um fiscal de ônibus da região, que preferiu manter o anonimato.

Em junho, cerca de 100 policiais militares foram denunciados por cobrar propinas e até por venda de armas a traficantes.

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